segunda-feira, 15 de abril de 2013

Em certos empreendimentos de risco, "quando o dinheiro fala, a verdade cala."


Gol estabelece bônus polêmico para pilotos por economia de combustível

RICARDO GALLO

Com um prejuízo de R$ 1,5 bilhão em 2012, a Gol encontrou um maneira polêmica para tentar reduzir gastos: a empresa decidiu pagar um bônus salarial para pilotos e comissários de bordo se eles economizarem combustível.
Metas de economia não põem voos em risco, diz Gol Para analistas, bônus por economia de combustível em voos é controverso.
Entre analistas de segurança de voo, não há consenso. Alguns afirmam que o bônus abre um precedente que, no limite, pode levar um piloto a tomar decisões baseadas não só na segurança mas também no que ganhará se poupar combustível.
Outros especialistas, mais a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), dizem não haver risco se os procedimentos de segurança forem seguidos.
A Gol nega risco. Diz que os pilotos são bem treinados e que monitora os voos para detectar eventuais desvios.
Afirma também que, entre economia e segurança, a prioridade será sempre a segurança. E diz que as metas não são individuais.

Durante meus 31 anos de controle de tráfego aéreo e 12 anos de Transbrasil - Linhas Aéreas aprendi o suficiente para opinar sobre o assunto.
Houve um tempo em que tripulantes ganhavam por diversas formas e fórmulas que influenciavam diretamente na operacionalidade ATC. Alguns pilotos não reduziam ou não adequavam a performance da aeronave à necessidade do controlador, porque ganhavam por pontualidade ou tempo; Outros eram chamados de "entope aerovia" porque recebiam por média voada por toda a empresa; Ou por hora voada. Chegavam a voar muito lento para que o calço ocorresse cerca de minutos após o horário, de forma que desse à toda tripulação o direito a mais uma refeição ou café da manhã, ou mais uma diária, ou até mesmo para regulamentar a programação seguinte. Isso pode parecer uma observação sem sentido, se não houvesse um planejamento de fluxo de tráfego do órgão de controle, estabelecendo um sequenciamento que, por não ter cooperação de pilotos, e não ter uma ferramenta que o auxilie nessa tarefa, pois é totalmente intuitiva, o final é sempre imprevisível. Duvido que um sistema automatizado consiga um fluxo contínuo de tráfego, tendo como protagonistas pilotos tão heterogêneos em sua formação, em suas atitudes ou obedecendo ao MGO específico de cada empresa. Se isso não for revisto pela autoridade aeronáutica, só mesmo o tempo de experiência vai nos dizer, como me dizia, que o pessoal da Transbrasil topava qualquer parada; O pessoal da Cruzeiro era simpático; O pessoal da VARIG antipático e o da VASP tanto fazia...
Desta forma, deve-se analisar os prós e contras dessa alternativa escolhida pela GOL, pois não é difícil imaginar que nunca estará voando sozinha nas aerovias e terminais. Sempre haverá uma congênere mais lenta à sua frente, ou mais veloz à sua retaguarda.
Não saber se seus pontos são positivos ou não aos interesses da empresa, não incorpora mais segurança e sim uma preocupação generalizada em apressar o passo e pousar mais rápido.
Agora uma pergunta fora do contexto: "PODERIA UM CONTROLADOR DE TRÁFEGO AÉREO RECEBER BÔNUS POR NÚMERO DE AVIÕES CONTROLADOS?" Calma... Não precisa responder.
Celso BigDog

Reportagem completa em: http://folha.com/no1262685 

6 comentários:

  1. Você esta coberto de razão quando diz que o interesse financeiro esta acima da segurança operacional. Tenho visto isso aqui em SBJR e infelizmente controladores de trafego aéreo contribuem para essa situação aceitando a pressão da chefia para trabalhar desconsiderando as normas de segurança. O próprio governo lava as mãos para as situações apresentadas diariamente.
    Grande abraço, Saude, Sorte e Sucesso.

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    1. Infelizmente, ainda que haja mais transparência hoje no trato das responsabilidades e da realidade ATC, perdemos muito quando de início, assustados com a atuação judicial em cima dos RELPER, a autoridade aeronáutica transformou o nosso Relatório de Perigo em um RELPREV, mera prevenção, sem urgência. De qualquer forma, o melhor a fazer é deixar tudo registrado. Grande abraço.

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  2. Pressão por todos os lados...A última "moda" entre as aeronaves é dizer que não tem autonomia para efetuarem uma única órbita. Não falo de aeronaves que alternam , e sim de aeronaves que vem de "A" diretamente para "B". Parece absurdo, mas o controlador inexperiente engole.
    Agora rola uma conversa de diminuir para 3NM a separação na final de Confins, separação que hoje é de 8NM (pista única). Se será bom ou ruim o tempo dirá, mas ao que tudo indica, há o dedo das empresas aéreas por trás disto.

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    1. Caro amigo,
      Até mesmo o controlador experiente tem que engolir, pois não tem como checar. Quem tem obrigação de verificar a veracidade da informação é a ANAC. Uma boa sugestão seria considerar toda a comunicação de "baixo combustível" como "Alerta Branco", botar todo mundo de orelha em pé, inclusive o CVE do aeroporto.
      A questão da separação de 3NM será uma boa coisa para que se comprove que o problema não está no ATC, e sim na infraestrutura aeroportuária. O número de arremetidas por pista ocupada se elevará muito em alguns aeroportos. Em outros ocorrerá uma demora incalculável no ponto de espera devido falta de espaçamento entre pousos, pois a maioria dos aeroportos brasileiros só tem uma pista, ou duas sem separação regulamentar para opertação simultânea. Vamos ver o que acontece. Abraço.

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  3. Sabe Celso, há 'empreendimentos' públicos de risco onde a verdade é única. A verdade é vertical. De cima para baixo. Horizontal é socialização da culpa. Onde quem fala também cala. Onde quem controla não manda. Quem é responsável é o único responsabilizado. Não há bônus. Somente ônus. Mercantilizar a segurança aeronáutica é só uma face. Como somos pródigos em inventar. Para os anais da história brasileira. Temos o recém-criado PPVAer. Trata-se do Pay-Per-View Aeronaútico. Onde todos estão pagando para ver. E, seja no outono, inverno, primavera...todos verão. Parabéns pelo blog. 73.

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    1. Obrigado colega. Gostaria de ser mais criativo nas postagens, mas tornou-se tudo tão repetitivo que chego a enjoar do assunto que mais gosto de discutir, ATC. Tenho esperança que alguns estudiosos do transporte aéreo que hoje despontam sem vínculos partidários, tomem posições de decisão no desorientado Transporte Aéreo no Brasil. 73

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