sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Desmilitarização do ATC – Uma questão de ponto de vista!

Diante das novidades do próximo governo que se erigem no horizonte, arrisco a dar meu pitaco. Posso dizer que fui um privilegiado dentro do SISCEAB. Por força das circunstâncias conheci profundamente a infraestrutura e a operacionalidade tanto de São Paulo, quanto do rincão mais remoto e mais inóspito da Amazônia. Tive o prazer de comandar o DTCEA-FX no Xingu, onde se alocam antenas repetidoras de Dados, VHF e RADAR, e pude ver de perto que não basta espernear e querer para si um brinquedinho difícil de manter. As questões de logística, de provisionamento, de manutenção são extremamente complexas. Tornar um SISCEAB civil não significa apenas transferir controladores, alguns microfones e telas de visualização RADAR para as mãos de um paisano. Significa transferir os problemas estruturais, que não são poucos, e certificar-se que o aceitante conseguirá dar conta do recado.
Pare um instante! Pense na questão administrativa e responda para si mesmo: - Ao receber de presente um ATC plenamente civil, quem você empossaria nos postos administrativos e gerenciais do complexo? Quem trataria dos assuntos e acordos internacionais junto à ICAO? Seriam os “controladores de voo”? Se pensa assim, sinto muito em decepcioná-lo. Ainda não há esse profissional com capacitação para tal. O sistema continuaria sendo, por muito tempo, gerido por militares de alta patente da reserva da Aeronáutica e políticos ligados aos segmentos do transporte aéreo, todos com altos salários e situação empregatícia invejável. Traria consigo todo o "modus operandi" que você está acostumado a cumprir hoje. Já teve a curiosidade de analisar o currículo do atual staff da ANAC?
Se num passado não muito distante, a transição mal feita do Departamento da Aviação Civil para ANAC produziu uma ação normativa que contribuiu para um acidente de grandes proporções em Congonhas, o que esperar então do ATC onde as ações fluem em tempo real?
Então minha gente, como nada acontecerá da noite para o dia, e inicialmente "tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes", devagar com o clamor que a torre é de barro.
Dilma quer pasta forte ou secretaria só para cuidar de aeroportos e portos.

Celso BigDog

domingo, 21 de novembro de 2010

Tráfego aéreo – Entre o lapso e o colapso!

Sempre que uma ocorrência envolvendo o controle de tráfego aéreo torna-se pública, notamos um silêncio cômodo. Ninguém se pronuncia com propriedade. E já que aqueles que deveriam falar não falam, ouvimos por todos os cantos o zurrar oportunista e impune dos sacrílegos, com seus discursos verborrágicos, insípidos, insanos e leigos: – “A culpa foi do operador de voo da torre de comando”. E diante disso, a única manifestação que vem do Olimpo é um sorriso de soslaio, de canto de boca, amarelado pelo receio de ser lembrado. E justificam: -“Se a voz do povo é a voz de Deus, lavamos as mãos, pois quem somos nós para contestá-la?”
O mecanismo é simples. A mídia sacia o cidadão com sua logorréia. O sistema aproveita o momento e entoca, sem escrúpulos, suas falhas sistêmicas nas gretas que solapam o regulamento aeronáutico e a regulação da aviação civil. E assim, enquanto a opinião pública se farta devorando a honra e a dignidade “jomarceliana”, as instituições passam ao largo, absortas, impolutas e alheias.
É quase impossível precisar quantas revisões, emendas, erratas e reedições sofreu a biblioteca aeronáutica (ICA/IMA.../RBHA/RBAC... e os MOP das cias aéreas) depois dos acidentes de 2006 e 2007. Com certeza foram tantas que algumas até se descaracterizaram, mudaram de nome ou foram simplesmente revogadas. Para ser mais exato, uma delas, a IS-RBHA 121-189 não passou de uma “brincadeirinha”, acreditem!
Este mês os controladores e os pilotos envolvidos no episódio de 2006 começaram a ser julgados. Se foram necessários quatro anos de estudos e análises da justiça e das mais renomadas assessorias aeronáuticas para se chegar a uma conclusão sobre o que deveria ou não ter sido feito, o que poderíamos esperar daqueles que só tiveram alguns segundos, entre o lapso e o colapso, para analisar o cenário, a pertinência dos regulamentos, decidir e agir?
Se as autoridades aeronáuticas estivessem convictas da consistência de suas ordens em 2006, certamente aguardariam o desfecho jurídico de hoje para, só então, promover as alterações necessárias.
É assim que eu penso!

http://setoraereo.blogspot.com/2007/09/clipping-is-rbha-121-189.html
Celso BigDog

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Aeroportos de Segurança Máxima!

Deixando a eficiência aeroportuária em terceiro plano (em segundo está o comércio lojista aeroportuário) o Brasil investe pesado na segurança aérea. O primeiro passo foi colocar o controle de tráfego aéreo dentro desse complexo, de maneira que, qualquer que seja o fator de insegurança produzido por agentes de controle de tráfego, ações repressivas podem ser tomadas de imediato, abreviando o trâmite administrativo, dando agilidade à máquina no trato com seus parcos Recursos-Humanos.
Nenhuma explicação nos convence de que resultados positivos possam ser alcançados antes de promovermos o maior fiasco da história aeronáutica desse país. A fala gerencial mostra claramente que a gagueira desconexa do “Aeroleigus Sapiens” é sustentada por um cargo de raízes muito profundas, difíceis de arrancar. Ainda que haja uma assessoria a assoprar-lhe nos ouvidos, ao estilo “Grilo Falante”, estou certo de que o próprio interlocutor não acredita no que diz.
Podemos concluir facilmente que o problema está na falta de expertise administrativa fruto do apadrinhamento político. Está na sobrepujança dos princípios técnicos por princípios castrenses, e no infundado desprezo das autoridades pela experiência laboral. O problema não está na base, na “infra” estrutura aeroportuária. O problema, de tão envolto por interesses diversos, foi engolido e passou a ficar no meio, no cerne, na “INTRA” estrutura aeroportuária.
Faltando 30 dias para o pico de demanda sazonal do tráfego aéreo no país, autoridades aeronáuticas se reúnem para traçar um plano “anti-caos”. O transporte aéreo brasileiro não reagirá positivamente com inócuas mudanças, com experimentos de última hora, com devaneios e ilações. Pressionados pela ameaça da culpa por “Falha Humana”, mais uma vez, a fluidez do tráfego fica à mercê da capacidade individual e da coragem de controladores e tripulantes.
O Transporte Aéreo Brasileiro já não aguenta mais mudança. Precisa mesmo é de TRANS-FOR-MA-ÇÃO!

A Associação Internacional do Transporte Aéreo (Iata), que representa mais de 200 companhias, fez ontem uma violenta crítica ao estado da infraestrutura do setor aéreo no Brasil, falando de "desastre" e de "vergonha".

Celso BigDog