sábado, 25 de junho de 2011

Aviação Civil - Trocando a “prevenção” pela fé!

O CENIPA diz estar "preocupado" com aumento de acidentes aéreos no país.

A ANAC diz que a validade dos dados informados na hora do voo “são de responsabilidade do piloto”.

Estamos às portas de uma mudança radical no transporte aéreo brasileiro. Uma mudança que deforma e despreza valiosos princípios aeronáuticos responsáveis por manter menos insegura a aviação civil até os dias de hoje: “A Prevenção”! O trabalho dos pequenos “Elos SIPAER”, chamados tecnicamente de EC - Elementos Credenciados, que primam pela boa conduta ou alertam para a correção de deriva das tendências e vícios no transporte aéreo, está em franca extinção. Não se pode acreditar em tudo o que é noticiado, mas é preciso estar atento, pelo menos para mostrar indignação e protestar como todo o cidadão bem intencionado deveria fazer. Lembrem-se: "Para que o mal triunfe só é preciso que os homens de bem nada façam."  "Edmund Burke"

Como EC e controlador de tráfego aéreo, prevencionista incondicional, e diante de tanta confusão estrutural reinante, sinto-me desamparado nas minhas mais cristalinas convicções. Assim sendo, desde já, rogo à “Nossa Senhora da Separação” para que cuide das imperfeições humanas de controladores e pilotos, dê luz aos nossos espíritos e provoque reações acertadas nos momentos mais críticos do tráfego aéreo.
Celso BigDog

terça-feira, 14 de junho de 2011

Na Aviação Civil quem tem "gargalo" tem medo!

A aviação civil brasileira precisa alçar voos mais longos, mas enfrenta um ambiente que a restringe a desajeitados e curtos voos de galinhas. Os chamados gargalos são apontados entre os segmentos como naquela brincadeira popular que diz que o responsável pelo mau cheiro “está com a mão amarela”. Vez por outra alguém é noticiado, pois, se descuida e olha para a palma de sua mão para conferir.
O fato é que de qualquer forma nosso gigante País que parece não acordar nunca para saborear sua vez de crescer, permanece deitado em seu berço esplêndido onde apesar de macio como um ninho, não permite que o progresso promova as transformações de infraestrutura que a situação exige, não só de aeroportos como também dos acessos a eles.
As empresas detentoras da maior fatia do mercado nacional deveriam criar suas rotas em dois troncos Norte/Sul, paralelos, com oficinas de manutenção em todos os portos, enquanto as regionais alinhavam as cidades intermediárias dessas regiões. Sendo assim, um avião da empresa Xis não compromete a malha em São Paulo quando ficar retida em Petrolina, por exemplo. Isso se justifica também porque hoje em dia a aviação civil no Brasil não se restringe à linha Boeing, graças à audácia e arrojo do polêmico empresário Rolim Amaro quando trouxe a linha Focker para operá-la sem qualquer cooperação técnica das demais. Empresas regionais diversificam suas frotas entre ATR/FK28 e EMB19X. Se uma conexão do voo de Santarém para Belém atrasar, não compromete o tronco principal e os passageiros são acomodados num próximo voo congênere.
Para o caso de Congonhas, Santos Dumont, Pampulha, Curitiba e Brasília, a adoção dos princípios do VDC - Voo Direto ao Centro, que permitem menor tempo de ocupação de solo e das salas de embarque. Se o passageiro desejar fazer conexões por conta própria, terá que fazer novo checkin e novo despacho de bagagem. Seria interessante também se pensar em modificar os equipamentos para esses VDC restringindo-os a quadrimotores turbo-hélice, contribuindo com a segurança sobre zonas populosas e com a diminuição do ruído no entorno aeroportuário. É fácil assim.
Essa questão de gargalo que se define tecnicamente como "Demanda X Capacidade"  tem dado muita dor de cabeça aos passageiros, mas acreditem, tem dado dores muito mais complexas nos empreendedores que ainda não tiveram coragem de mudar certos princípios de operação que não produzem insegurança ao tráfego aéreo, pelo contrário, elimina os odiáveis hubs na ineficiente terminal São Paulo.
Celso BigDog

sexta-feira, 3 de junho de 2011

No pernoite todos os jatos são pardos.

Um assunto que tem sido noticiado pela mídia sensacionalista é o sono dos controladores de tráfego aéreo. Acho um bom tema para ser explorado, principalmente porque pode se traduzir em um acidente aeronáutico, mas a maneira como é levado a público, incompleta e inverídica, expõe a classe ao ridículo, como se fosse mera irresponsabilidade dos envolvidos. Nenhum dos fatores, ou estudos sobre o assunto é mencionado, para dar clareza à informação e formar opiniões sobre os verdadeiros causadores do fato.
Desde a década de 90, pesquisadores do COPPE/UFRJ, USP, UNIFESP e outras tantas instituições de pesquisa em fatores humanos entraram nos ambientes ATC. Trabalhos fantásticos foram gerados, mas por infelicidade, principalmente do cidadão brasileiro, não produziram eco e suas recomendações permanecem até hoje circulando somente no meio científico, sendo desprezadas pelas autoridades políticas ou militares já que em sua visão não agregam qualquer valor à segurança aérea. Se dormir é punido e pronto!
É fato que muitos acidentes e incidentes ocorrem em momentos de baixa densidade do tráfego aéreo. Pouco stress no desempenho dessa função pode levar o controlador à dispersão, à desatenção ao serviço em detrimento de seus problemas particulares, e porque não dizer ao cansaço. É um fator difícil de racionalizar, pois, uma equipe superdimensionada pode causar distração com conversas paralelas. Em contra partida, ainda que um só elemento seja suficiente para dar conta do volume de tráfego, o espírito de equipe que rege um órgão ATC não encontrará apoio caso este único personagem venha a cometer um deslize.
Antes de julgarmos a “irresponsabilidade” do controlador dorminhoco, é preciso ter conhecimento dos fatores que o levaram a se quedar, pois à noite nem tudo é o que parece ser, já que todos os jatos são pardos.
Deixo aqui um link, para clarear as ideias sobre o assunto, que o levará ao brilhante trabalho da Dra. Rita de Cássia Seixas Sampaio Araújo, Mestre em Saúde Pública, que em anos de pesquisa, utilizando-se da técnica do "Discurso do Sujeito Coletivo", abordou o assunto de frente e direto do vertedouro do problema, ou seja, do ambiente de controle de tráfego aéreo. Faça o download:
“O trabalho na aviação e as práticas de saúde sob o olhar do controlador de tráfego aéreo”.
Celso BigDog