Passado o período de filiação partidária e candidaturas para o pleito deste ano, sinto que, uma vez mais, perdemos a chance de buscar uma cadeira que dê voz ao controlador de tráfego aéreo no cenário político nacional. Mas sou condescendente com a classe, pois são tantos os percalços que isso é plenamente compreensível. Para dizer a verdade, a confusão de valores morais que se instalou no País dificulta o entendimento do que é fazer política. Exercer a cidadania em sua plenitude chega a ser um pensamento utópico, até porque a condição militar castra qualquer iniciativa de levar a voz da caserna ao Plenário.
Mas, se um dia você se enveredar por esse caminho, dentro dessa idéia de renovação de que tanto falamos, quer seja como candidato, quer seja como articulador atuando nos bastidores, esteja atento a alguns requisitos. Não alardeie seus conhecimentos, sua educação, sua cultura, pois isso pode soar como uma “ameaça da elite dominante”. Preferencialmente alegue que há pouco tempo atrás tinha uma mera alfabetização funcional. Omita que nasceu numa grande capital, e ressalve que foi criado no interior do país, numa palhoça de um lugarejo que ninguém nunca ouviu falar. Ter passado fome também é um forte argumento. Se branco, não se esqueça de citar que o seu tataravô era afro-descendente e que se casou com uma índia pega a laço na beira de um rio. Caso tenha antecedentes criminais, exalte seus feitos, sua condição de ex-exilado, ex-terrorista, ex-assaltante de bancos ou que pelo menos, no passado, conspirou contra a Nação e que cometeu delitos indizíveis até mesmo sob tortura, mas veja bem, diga isso “rindo”. Se nunca foi preso, trate de arrumar uma cadeiazinha para melhorar seu escore. Lembre-se de dizer também que, no mínimo, se considera um alegre “S” do movimento GLS brasileiro. Tudo isso pesa a seu favor na busca por um lugar ao sol, pois caso contrário meu amigo, terá de competir com a esmagadora maioria da população brasileira, que luta com unhas e dentes por uma mísera vaga na universidade ou no mercado de trabalho.
Não, não é exagero. Se observar criteriosamente verá que a ética agoniza e a moral desanda aos pés dos formadores de opinião. A tolerância à incompetência administrativa em todos os segmentos públicos é complacente, perniciosa e dissimulada. A Constituição Federal do Brasil, que foi criteriosamente redigida, sofre com interpretações de conveniência, entupindo a Corte Suprema com recursos extremos, e o que deveria apenas garantir o respeito à exceção, coloca essa condição anormal como regra. O Estado ao proteger demagogicamente as minorias, se esquece de legislar em prol da maioria. Quero ter o direito de comemorar o “Dia do Orgulho Hetero”, mas não posso. Quero usar, sem retaliação, uma camiseta com os dizeres “100% Branco”, mas não posso. Quero ter um feriado relativo ao “Dia da Consciência Branca, Amarela, Parda”, mas não tenho. Quero poder comemorar o dia do “Cara Pálida”, mas não posso. Quero poder participar, sem ser molestado, de um comício em prol das “Indiretas Já!”mas não posso. Quero poder proteger com vigilantes armados minha propriedade rural das invasões bárbaras, assim como fazem os banqueiros em suas agências bancárias, mas não posso. Quero ver aquela família enlutada, que perdeu seu chefe num covarde assassinato, recebendo a mesma indenização que a família do facínora preso recebe, mas não vejo. Quero ver o pai de família, que sai de casa em busca de trabalho, ter o mesmo apoio de ONGs e do Governo que o ex-presidiário tem ao sair da cadeia, mas não vejo. Quero, ao pagar meus tributos religiosamente em dia, ter as mesmas vantagens dos inadimplentes, com prestações recalculadas a perder de vista, com perdão de multas e com 50 por cento de desconto, mas não tenho. Quero poder levar meu filho no local de trabalho, para que ele me ajude com pequenas tarefas e tome gosto pelo lavor, mas a “Lei da Infância e Juventude”, hipocritamente interpretada, proíbe o “Trabalho Infantil”, no entanto, permite que artistas nasçam no picadeiro, cresçam em frente às câmeras, aos microfones, nas telas do cinema e da televisão. Quero poder praticar minha cidadania começando por saborear o artigo 5 da Constituição Federal que diz...
<< Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes... CF >> ... mas não posso!
Das duas uma, ou o Estado Brasileiro se mostra capaz de zelar pelas garantias constitucionais do cidadão comum, ou estende de forma igualitária a todos os brasileiros os mesmos direitos que garante ao “cidadão incomum”.
Pois é... se um controlador de tráfego aéreo pensa, por que ainda não existe?
Celso BigDog
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