Um típico dia ensolarado de domingo, mas o vento forte que assoviava nas frestas da janela da sala já dava idéia da tempestade que não tardaria a chegar. Do edifício onde moro pude ver no horizonte a aproximação das negras e ameaçadoras nuvens. Corri para fechar as vidraças dos demais cômodos e notei, do outro lado da rua, o vizinho que inocentemente preparava o quintal da casa para um churrasco em família. Coitado! Ele não podia ver o que se aproximava por trás de sua casa, nem podia sentir o forte vento, pois o edifício vizinho o bloqueava. Pensei em avisá-lo, alertá-lo para que não tivesse de correr da chuva, mas optei por fechar a cortina e deixar que as evidências o fizessem perceber por si só.
Algum tempo depois, no intervalo do jogo da Copa, incomodado com silêncio que dominava o ambiente, voltei à janela. A tempestade que ameaçava desabar passou ao largo. Abri as vidraças e cortinas e deixei entrar o sol que já se elevava e aquecia a brisa típica de João Pessoa. Olhei para o outro lado da rua e lá estava o vizinho feliz junto à sua família. A churrasqueira fumegante e o cheiro delicioso da boa carne dividiam o espaço com as crianças que corriam de um pequeno cão em volta do jardim. O dia nunca esteve tão perfeito para uma reunião como aquela. Um olhar camarada e um aceno sorridente vieram em minha direção completando o quadro. Retribuí o gesto, fechei a cortina e entrei.
Tenho acompanhado com preocupação e criticado o desenrolar do transporte aéreo brasileiro para suportar os megaeventos que se aproximam. Mas preocupar-me por que, se os gestores responsáveis pelas medidas inadequadas do passado já se foram? Se aqueles que deixaram de tomar as providências necessárias também já se foram? Diante da incapacidade e da inércia administrativa, da ganância das empresas aéreas e do jogo de interesse político partidário que dilapidou a infraestrutura aeroportuária brasileira, só nos resta fechar as janelas por uns tempos e torcer para que a tempestade passe ao largo.
Acredito que não haja mais tempo para soluções concretas, pois agora só nos resta correr da chuva, se ela vier. A vergonha a gente esconde sob a imensa lona da negligência. Com um pouco de criatividade, distrairemos o turista estrangeiro com lindas mulheres seminuas a sambar desvairadamente no checkout, e eles nem notarão que até a lona tem remendos.
E para terminar não me sentindo omisso, recomendo ao grupo de controle de tráfego aéreo reestudar e treinar exaustivamente os procedimentos defensivos e de degradação de sistemas ATC/ATM vigentes, de maneira que, principalmente nesse período, o controlador não fique exposto às incompreendidas falhas sistêmicas escritas "por aquele homem de um braço só!"
Gargalo? Que argumento antigo! Hoje a aviação civil brasileira não tem gargalos, pois ela mesma tornou-se, indiscutivelmente, um dos maiores gargalos no desenvolvimento do País. E sabe de uma coisa, esse papo de gargalo dá uma sede...
Celso BigDog
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