FAB estima até 7 colisões por dia nas pistas do PaísPorto Alegre e Belo Horizonte usam técnicas de falcoaria para espantar pássaros de aeroportos. O choque entre aves e aviões durante pousos e decolagens é um perigo iminente nos aeroportos brasileiros. Foram 550 acidentes em 2008, contra 567 no ano anterior e 486 em 2006, de acordo com dados do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (cenipa). Essas colisões dão prejuízo de mais de US$ 3 milhões por ano no País, segundo o Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea). Por causa da subnotificação, o Programa de Controle do Perigo Aviário do cenipa aponta que as batidas contra aves possam atingir a marca de 2 mil a 2, 5 mil choques - média de até 7 colisões por dia.
A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) informa que "a subnotificação ocorre ao ser considerados todos os aeroportos existentes no Brasil". Porém, não é o caso dos 67 aeroportos da empresa, que têm um grupo treinado para observar e reportar sempre que houver indício de possível colisão, justifica a estatal, em nota.
De acordo com o cenipa, os choques entre aeronaves e pássaros acontecem, na maioria das vezes, nos momentos de aproximação ao aeroporto, como pousos e decolagens. O aeroporto é tido como uma área bastante atraente para as aves, pois há grande área livre e limpa e alimento disponível, como as sementes de grama.
O Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, está adotando 11 falcões para vigiar suas pistas e afugentar aves em voo. Nas pistas, a patrulha será feita por cães. A experiência com falcões já é utilizada no Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, que conseguiu reduzir em 37% o número de ocorrências com o apoio de quatro falcões e dois gaviões adestrados.
A técnica de falcoaria é considerada eficaz e ecológica. Mas há também ações com buzinas e sons, elementos químicos, luzes e rojões. Uma das mais recentes técnicas é a chamada birdstrike prevention system, um modelo de aeronave guiada por controle remoto que imita predadores, como gaviões e falcões.
A Infraero usa a falcoaria apenas nos aeroportos de Porto Alegre e Belo Horizonte. "A Infraero está finalizando o convênio com o Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico, da Universidade de Brasília, que visa à elaboração de plano de manejo de fauna para diversos aeroportos. Nesses planos, a falcoaria poderá ser identificada como opção viável para o controle da fauna. A adoção da falcoaria como única alternativa não atende ao plano de manejo de fauna", informa a empresa.
No Rio Grande do Sul, a empresa que venceu o pregão para o projeto-piloto de falcoaria orçou os trabalhos em R$ 199 mil ao ano, um custo de R$ 16,6 mil por mês. Em Guarulhos, a Infraero deverá analisar estudos sobre a eficácia da falcoaria. A empresa admite que não há restrições para o uso da técnica como parte do sistema de combate a acidentes.
LEI DESRESPEITADA
No Brasil, existem leis, que não são respeitadas, que dariam maior segurança às pistas de pouso e decolagem. Uma antiga resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), de 1995, recomenda a existência de Área de Segurança Aeroportuária (ASA), sem pontos atrativos de aves, num raio de 20 quilômetros para aeroportos que operam com as regras de voo por instrumentos e de 13 quilômetros para as demais pistas. Cabe às prefeituras das cidades onde estão instalados os aeródromos fiscalizar para não existir lixões e depósitos de resíduos domésticos, matadouros, rios e riachos com falta de saneamento básico e outros locais que são fatores de atração das aves perto de aeroportos.
"Com mais seriedade, os lixões e aterros seriam proibidos de ser instalados próximos dos aeroportos. O número de aves está aumentando porque elas têm o que comer nesses locais", critica o piloto Antonio Batschauer. Ele já foi vítima de colisão com aves por três vezes, duas no Rio e uma no Recife. "O impacto de um urubu no para-brisa chega a 8 toneladas. Para evitar que a ave bata no para-brisa, quando é possível, se faz uma manobra brusca. Isso assusta muita gente. E se o urubu entra pela turbina, um cheiro insuportável se espalha pelo avião", conta o piloto, que nunca passou por choque com pássaros em voos internacionais.
O ESTADO DE SÃO PAULO 11/07/2009
A iniciativa de criar e adestrar falcões na área aeroportuária, para "vigiar os intrusos" , poderia funcionar em localidades que apresentam um ou outro espécime desavisado do perigo. Mas do jeito que nossos aeródromos estão dominados por garças, quero-queros, seriemas, pombos e urubus, coitados dos falcões. Acabarão atropelados por aviões quando forem escurraçados por bandos de delinquentes aviários. Xô! Xô!
Veja artigo sobre o Galeão
Celso BigDog
E assim disse o Jornal do Brasil em sua edição de 26 de julho de 2009:
ResponderExcluirO perigo aviário
Carlos Eduardo Novaes (Escritor)
As autoridades precisam decidir se o Tom Jobim é um aeroporto ou um aveporto. O que não se pode é deixar aviões e pássaros disputando o mesmo espaço aéreo, dando trombadas e colocando em risco a vida das pessoas e dos urubus. O Tom Jobim é o recordista brasileiro – talvez mundial – das colisões. Ano passado, 78 aves entraram pelo cano (ou pela turbina) dos pássaros de aço. Não sei como o Ibama ainda não interditou o aeroporto. Há registros de que um quero-quero foi parar na bandeja do café da manhã de um passageiro.
Se você perguntar a um urubu pelo Tom Jobim, ele lhe dirá que é o melhor resort para aves do país. Oferece amplos espaços, água limpa, manguezais, aterros sanitários e – um must – vazadouros clandestinos. O que mais pode querer uma garça? Não fosse a ameaça constante dos aviões subindo e descendo, até as aves do Pantanal já teriam se transferido para a Ilha do Governador.
Diz o Sindicato das Empresas Aeroviárias que as companhias aéreas gastam R$ 6 milhões por ano só para consertar as avarias provocadas pelas aves. Imagina em quanto não chegaria esta conta se os paquidermes também voassem. Desconhece-se, contudo, os gastos da Sociedade Protetora dos Animais para recuperar as aves atropeladas pelos aviões. O que se sabe é que vem de longe o esforço para acabar com os acidentes neste cruzamento aéreo. Existem três comissões ditas de "perigo aviário" estudando soluções, uma da Cenipa (Prevenção de Acidentes Aeroviários), outra da Anac e a terceira da Infraero. No dia em que o avião da Delta se chocou com um pássaro, as três comissões se reuniram em regime de urgência. Mas você sabe como são as reuniões de comissões.
– Alguém sabe qual foi o pássaro que colidiu com o avião? – perguntou o chefe da comissão.
Silêncio. Ninguém sabia. Um membro da comissão ponderou:
– Não deu para identificar. Ele foi triturado!
– Não sobrou nem uma peninha na pista? Precisamos identificar o culpado para abrir o inquérito.
Um membro da reunião arriscou:
– Acho que foi um urubu!
– Tem certeza? Ou você disse urubu porque ele é sempre o principal suspeito? O urubu é o mordomo das colisões aéreas!
- No aeroporto dizem que foi um tuiuiú!
- Que diabo é um tuiuiú?
– É a ave símbolo do Pantanal. Parece que ele veio passar as férias no Tom Jobim, não estava acostumado ao transito da cidade grande e...
Na verdade, as comissões já fizeram de tudo para evitar acidentes: soltaram fogos de artifício; botaram falcões de segurança na área, instalaram redes nas valas de escoamento, usaram até um sonar emitindo ruídos de aves predadoras. Os urubus entenderam tudo isso como um show promovido pelo resort.
Que tal agora tentarem os cachorros cantantes do canil Sibemol? O canil recebeu R$ 120 mil da Petrobras e está a espera de um local para estrear seu número. O único problema é o coral canino fazer sucesso entre as aves.
Vão ter que mudar o Tom Jobim de lugar.