domingo, 3 de maio de 2009

Onde estão os oficiais especialistas? (Ponto de Vista)


Durante minha leitura diária dos comentários e e-mails que recebo referentes ao blog, uma frase chamou-me a atenção:
"Onde estão os oficiais Especialistas em Controle de Tráfego Aéreo para falar do tema ínsito a sua ‘ESPECIALIZAÇÃO’, quando da ocorrência?"

Para responder a essa pergunta, precisei voltar ao ano de 1982...

Atendendo ao ato do brigadeiro Délio Jardim de Matos, então Ministro da Aeronáutica, a EOEIG – Escola de Oficiais Especialistas e de Infantaria de Guarda, sediada em Curitiba, foi sumariamente fechada. Eram tempos difíceis que davam início à perda do status de Ministério das Forças Armadas. Aliado a isso desembarcava também a recessão causada pela transição do período da abertura política, onde certo revanchismo incumbia-se de esvaziar os cofres aeronáuticos. Como um infortúnio nunca vem sozinho, eclodia também no continente a Guerra das Malvinas.
Sem dinheiro para manter e abastecer as aeronaves da Força, nossos audazes pilotos perderam sua autonomia e sem asas para voar, passaram a sobrar nos esquadrões aéreos de todo o País. O que fazer com eles? Simples, passaram a assumir seções, destacamentos e departamentos da alçada de oficiais especialistas, que aos poucos esvaziavam as fileiras pela porta da reserva remunerada. Não era muito difícil imaginar o resultado da administração alienígena ou leiga gerenciando setores extremamente técnicos. Essa falta de expertise e a grande rotatividade que sempre movimentou a vida de um aviador se incumbiram de moldar o cenário que vemos hoje. Só então, cerca de 10 anos após, apercebendo-se do erro capital, o comando aeronáutico tratou de resgatar o quadro de oficiais especialistas.
Os problemas que enfrentamos ainda hoje são decorrentes da falta desses oficiais no escalão superior da Força, onde o poder decisório começa a se fazer notar. Com um pouco de sorte isso deve se normalizar nos próximos cinco anos.
Tenho acompanhado com entusiasmo o desenvolvimento técnico e intelectual desses novos oficiais, que através da abertura das instituições como Poli, USP, UNIFESP e principalmente o ITA, demonstram que é possível reverter esse quadro, e já começa a dar sinais de prosperidade.
Para mim é motivo de grata satisfação, ver meus ex-alunos controladores, jovens inseguros de outrora, aflorarem como a esperança de um ATC/ATM sério, diligente e respeitado, quer seja ele civil ou militar.
E diante da pergunta que deu origem a este texto, respondo: - Calma! Eles estão voltando!

Celso BigDog

Um comentário:

  1. Caro Celso, a sua explicação histórica trouxe luz àqueles que não a conheciam. Mas como nosso mundo do conhecimento é feito de muitas perguntas, que geram mais perguntas e assim por diante, até chegarmos ao topo da pirâmide cognitiva (tende ao infinito). Pergunto-vos:

    Partindo de: “ Calma! Eles estão voltando!”

    Devemos ficar felizes ou tristes? Gratos ou não? Pensativos ou inertes?

    Vejo com certa preocupação o ‘TAL RETORNO’. Não pelas pessoas que OPTARAM pelo caminho do oficialato. Cada um faz o que quiser. Mas sim, como estão sendo conduzidas as coisas lá pelos lados da Escola de Formação.

    É sabido por todos, que conhecem alguém que está a desenvolver o aprimoramento para atingir o oficialato que o regime imposto é um forte ENDOUTRINAMENTO MILITAR. Não vejo espaço para o LIVRE PENSAR técnico. Não vislumbro a pesquisa e o pleno emprego daquilo que for desenvolvido, no cotidiano das unidades onde estão enraizados os órgãos de Controle de Tráfego Aéreo.

    Sinceramente, gostaria de estar errado. Mas o que vejo é:

    Para muitos colegas que enveredam pelos caminhos do CFOE e EAOF a questão é pura e simplesmente PREVIDENCIÁRIA. Ter uma remuneração melhor. Ficar mais um tempo e fazer um pé-de-meia. Ir usufruindo do PNR (Próprio Nacional) para não ter que pagar aluguel. E para uns poucos, o pseudo-status de ‘OFICIAL da AERONÁUTICA’.

    Dos que estão lotados atualmente em órgãos ATC, não estamos vendo o assessoramento adequado para as violações regimentais internas.

    Mormente praticadas pelos próprios tenentes quando da sua atuação (?) frente a posições chaves.

    E daqui vem a pergunta – Como em um futuro próximo, irão se comportar, estes seres, moldados pela força de ‘H’ e ‘D’ (ressalto não tenho nada contra Hierarquia e Disciplina.

    Salvo, quando aplicada em detrimento de um contexto técnico de alto poder decisório individual), quando suas ‘CARREIRAS’, ‘VIAGENS’, ‘CURSOS’, ‘DIÁRIAS’ E ‘AJUDAS-DE-CUSTO’ dependerem da decisão de um Oficial Aviador?

    Na cabeça do New Lt Ultra Reloaded – será que defendo o viés TÉCNICO ou fico quietinho e sento o sarrafo naqueles que estão no degrau debaixo?

    Pois bem, Celso, eu, Anônimo Parceiro da Silva, penso que eles são e continuarão a ser egoístas. Não por vontade própria. Mas por força das necessidades humanas. E pela postura rígida e inflexível do meio castrense (aproveito para reafirmar, que nada tenho contra o a vida militar. A caserna pura é assim mesmo). Minhas observações são pela EVOLUÇÃO do MUNDO ATC. E enquanto não houver a separação de meios tão distintos... a pressão desta panela ATC continuará alta.

    Só consegui enxergar um pouco de apego a comentários, discussões, buscas salutares por melhorias internas, quando tiveram seu nascedouro intra-órgão. Em meio aos que labutam, sofrem e resolvem o dia-a-dia orgânico. Nos ‘cafezinhos’, ‘copas’, ‘churrascos’, ‘festas’, ‘confraternizações’, no bate-papo nos consoles quando o volume de tráfego abaixa.

    Mas isto é um sonho saudosista. Por agora, sem parecer extremamente pessimista, fico com os amigos CELSO BIG DOG e STEPHEN KING:

    AS VEZES ELES VOLTAM – “Sometimes They Come Back, 1991.”

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