Era uma quarta-feira. Aliás, era uma “Quarta-feira de Cinzas” para ser mais exato. Uma controladora de tráfego aéreo ocupava a posição operacional do setor 2, responsável por todo o movimento da área norte de São Paulo.
A volta do feriado já mostrava sua cara e pintava a tela do radar como brotoejas pipocando por todos os setores. Maria-Zita (nome fictício), vendo que sua capacidade de controle estava chegando ao limite, pediu ao assistente, ou melhor, ao auxiliar, ou melhor, ao estagiário, ou melhor, ao garoto que estava ao seu lado de olhos esbugalhados, que pedisse ao ACC BS para segurar a aviação em Campinas, acima do FL200. Foi o mesmo que nada. O belzebu do garoto disse algo ao controlador de Brasília que não foi entendido e aí começou o fuzuê.
O último vôo que chamou o APP SP foi um fretamento vindo de Porto Seguro, que ela manteve em órbita sobre Campinas no FL180. Logo atrás um B747 de uma empresa francesa descia supostamente para o FL 200 sob controle de Brasília. Eu disse supostamente. Mal o fretamento entrou em órbita no FL180, veio sobre ele, descendo o Jumbo. Stress! Stress! Stress! Foram longos 30 segundos do mais profundo stress. Assim que foi debelado o conflito, Maria-Zita pediu substituição e dirigiu-se ao toalete onde chorou muito. Nada melhor para desabafar aquele momento terrível.
Sem ter como consolá-la, chamei um colega para perto e começamos a simular uma conversa séria.
- Sabe quem ligou ai para agradecer?
- Não! Disse o interlocutor.
- Foi um passageiro que vinha de Porto Seguro dentro de um Focker-100. Disse que a poucos minutos do pouso teve uma indisposição e correu ao banheiro do Focker, mas para não perder o pique, fez o trajeto cantando “Segura o Tcham, amarra o tcham, segura o tcham, tcham, tcham, tcham, tcham!” E entrou no banheiro. Minutos depois, preocupado com o momento do pouso, saiu da cabine no embalo da “Dança da Garrafa” e deparou-se com uma linda comissária francesa com uma bandeja na mão. Olhou em volta e percebeu atônito que estava agora dentro da classe executiva de um Jumbo. Olhou para a comissária que sorrindo, gentilmente lhe perguntou:
-Escargot monsieur?
E ele batendo a mão na pança jocosamente respondeu:
- Nossa! Você nem imagina quanto!
Fingindo não prestar atenção, Maria-Zita começou a soluçar novamente, mas logo percebemos que chacoalhava o corpo de tanto rir. Começava ali um processo de recuperação de sua auto-confiança, imprecindível para desempenhar nossa complexa função.
E esse não haveria de ser o último trauma sofrido. Juntos, fomos protagonistas de muitas outras histórias. Umas mais tristes e outras alegres, mas com certeza, todas inesquecíveis.
O que? O Relatório de Perigo? Certamente que preenchemos!
Saudade!
A volta do feriado já mostrava sua cara e pintava a tela do radar como brotoejas pipocando por todos os setores. Maria-Zita (nome fictício), vendo que sua capacidade de controle estava chegando ao limite, pediu ao assistente, ou melhor, ao auxiliar, ou melhor, ao estagiário, ou melhor, ao garoto que estava ao seu lado de olhos esbugalhados, que pedisse ao ACC BS para segurar a aviação em Campinas, acima do FL200. Foi o mesmo que nada. O belzebu do garoto disse algo ao controlador de Brasília que não foi entendido e aí começou o fuzuê.
O último vôo que chamou o APP SP foi um fretamento vindo de Porto Seguro, que ela manteve em órbita sobre Campinas no FL180. Logo atrás um B747 de uma empresa francesa descia supostamente para o FL 200 sob controle de Brasília. Eu disse supostamente. Mal o fretamento entrou em órbita no FL180, veio sobre ele, descendo o Jumbo. Stress! Stress! Stress! Foram longos 30 segundos do mais profundo stress. Assim que foi debelado o conflito, Maria-Zita pediu substituição e dirigiu-se ao toalete onde chorou muito. Nada melhor para desabafar aquele momento terrível.
Sem ter como consolá-la, chamei um colega para perto e começamos a simular uma conversa séria.
- Sabe quem ligou ai para agradecer?
- Não! Disse o interlocutor.
- Foi um passageiro que vinha de Porto Seguro dentro de um Focker-100. Disse que a poucos minutos do pouso teve uma indisposição e correu ao banheiro do Focker, mas para não perder o pique, fez o trajeto cantando “Segura o Tcham, amarra o tcham, segura o tcham, tcham, tcham, tcham, tcham!” E entrou no banheiro. Minutos depois, preocupado com o momento do pouso, saiu da cabine no embalo da “Dança da Garrafa” e deparou-se com uma linda comissária francesa com uma bandeja na mão. Olhou em volta e percebeu atônito que estava agora dentro da classe executiva de um Jumbo. Olhou para a comissária que sorrindo, gentilmente lhe perguntou:
-Escargot monsieur?
E ele batendo a mão na pança jocosamente respondeu:
- Nossa! Você nem imagina quanto!
Fingindo não prestar atenção, Maria-Zita começou a soluçar novamente, mas logo percebemos que chacoalhava o corpo de tanto rir. Começava ali um processo de recuperação de sua auto-confiança, imprecindível para desempenhar nossa complexa função.
E esse não haveria de ser o último trauma sofrido. Juntos, fomos protagonistas de muitas outras histórias. Umas mais tristes e outras alegres, mas com certeza, todas inesquecíveis.
O que? O Relatório de Perigo? Certamente que preenchemos!
Saudade!
Celso BigDog
Este nome não é fictício...
ResponderExcluirCelso Cachorrão
ResponderExcluirGostei muito desse anal (que deveria entrar para os anais de nossa história no APP SP). Bela atitude de um dirigente procurando tirar a Maria-Zita do foco do acontecimento e que com certeza preservou mais um controlador para as lidas futuras. Infelizmente como você sabe, tivemos vários colegas que após "um quase" nunca mais operaram. Câmbio. Criscuolo
É um grande prazer recebê-lo em minha casa Mestre Criscuolo. Concordo plenamente contigo. Muitos de nossos amigos não se refizeram dos traumas do "Quase", imagine aqueles que não tiveram a sorte de parar no quase!
ResponderExcluirFomos uns guerreiros não? Fomos acima de tudo sortudos por termos exercido a atividade no fio da navalha, protegidos por Deus em nossa pura e incauta inocência.
Lembra-se que fui homologado por você? Pelo Benício e pelo Junqueirão.
Saudade meu Amigo. Saúde a você!
Celso