- Quatro! Uma girafa tem quatro pés meu filho!
CFIT é o acidente no qual a aeronave, sob controle da tripulação, é voada de maneira não-intencional em direção ao solo, água ou obstáculo, podendo ocorrer em qualquer fase de vôo.
Os acidentes CFIT têm os seguintes fatores contribuintes:
- complacência no uso do automatismo;
- procedimentos de não-precisão com descida em “steps”;
- falta de alerta situacional;
- falhas de CRM;
- efeito “Black Hole”;
- inexistência ou falha no uso de Auxílios à Navegação e Auxílios Visuais (VOR, DME, NDB, ILS, PAPI, VASIS, AVASIS);
Podemos afirmar que a percepção de uma situação anormal depende da consciência situacional naquele momento. Isso vale tanto para pilotos, como para controladores ou qualquer outra pessoa, qualquer outro profissional.
Para entender o significado dessas palavras faça a seguinte pergunta a si mesmo: “Eu sei exatamente o que está se passando à minha volta?”
Alguém já definiu que pessoas concentradas têm o pensamento voltado para o “agora”, para esse exato momento. Outras são dispersas perdidas no ontem e no amanhã. Apesar dos mortos não falarem para testemunhar que isso é um fato, muitas pessoas que passaram por momentos extremamente delicados, quer seja no volante de um veículo ou atravessando uma rua à pé, confessaram que a introspecção, tanto analisando o passado quanto ansiando pelo futuro, foi a grande responsavel pela perda da consciência situacional.
Historinha? Vamos lá.
Encerrado o briefing subi para assumir uma das posições operacionais do APP SP. Minha predileta era o setor 2, para onde, sem pestanejar me dirigi.
O controlador que saia, estudante de odontologia, levantou-se afobado dizendo:
-" É auto-explicativo. Só tem esse cara ai, FL 080 na proa de Santana, mas não chame ele agora não porque mudou o ATIS e ele está copiando as novas condições". - E saiu correndo para sua aula.
Entendendo estar tudo certo, olhei para a tela onde havia um só avião no FL080 na perna do vento da pista 17 de Congonhas. Esperei alguns segundos e instrui o Citation 500 a descer para 5500’ e observei que além de dar o ciente, ele cumpria a instrução de descida na proa de Santana. Ao passar o través do externo, instrui curva à direita e descida para 4.300. Confirme curva à direita? - ele perguntou. E apesar do alerta, confirmei. Não se passou nem um minuto e um experiente controlador que fazia a supervisão pergunta exaltado: QUEM É AQUELE CARA CURVANDO LÁ EM BRAGANÇA!
Meu coração disparou. Olhei para a strip de papel e encontrei as respostas. Perguntei ao piloto o nível que estava cruzando e as condições de voo, ao que ele respondeu: 060 instrumentos. Acreditando que ele já estivesse voando entre as montanhas, desesperadamente instrui que subisse de imediato para o FL 080 e voltasse à proa para Santana.
Meu tráfego não vinha do sul. Era um voo de Belo Horizonte para São Paulo e sobrevoava uma região onde o FL mínimo era 110 e a CAMV indicava 8000’em caso de vetoração.
O tráfego que estava na perna do vento e que me induziu ao erro estava sendo controlado por um outro setor.
Além do piloto estar sendo vítima da minha falta de consciência situacional, numa instrução equivocada, o DME Santana estava fora do ar, dificultando sua localização dentro da terminal São Paulo.
Com certeza essa foi a situação mais crítica, talvez a única situação realmente crítica criada por mim em toda a carreira. Agradeci a Deus e ao colega que providencialmente impediu que eu viesse a ser personagem de uma história triste, muito triste.
Celso BigDog
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