terça-feira, 27 de novembro de 2012

Tele-sena, Dupla -sena, Mega-sena...



Requentando a mesma ladainha de 2007/2008      (Publicado em 19/12/2008)
Assim como na Mega-sena, mais uma vez iniciaremos um novo ano com um volante de loteria nas mãos. Papai Noel existe e alimenta nossas esperanças de que uma chance a cada 53 milhões de apostas nos premiará profissional e financeiramente. É a imagem que vejo refletida nos olhos de meus colegas, apesar da gastura que carcome suas almas diante de tão insípida esperança. Afinal, sonhar ainda não paga tributo.
Qualquer que seja o enquadramento profissional, ou a denominação de atividade ou ainda o apelido que venhamos ter, nossos desígnios não vão além de um conveniente sacerdócio aos olhos dos poderosos. Nossa atividade atrelada a interesses inimagináveis e muitas vezes equivocados tornou-se saco de pancadas e motivo de galhofa da opinião pública, hoje propositalmente mal esclarecida. Por que trabalhamos compensando deficiências da infra-estrutura aeroportuária? Por que trabalhamos compensando a incompetência administrativa? Por que trabalhamos dando um jeitinho na legislação capenga da ANAC? Por que somos complacentes e cúmplices com a dissimulada, cínica e gananciosa cultura das empresas aéreas brasileiras? Também não sei responder, pois, ironicamente, apesar desses meus eternos questionamentos, foi exatamente assim que trabalhei por mais de 30 anos, controlando a incompetência aérea brasileira. Não há outro caminho para a categoria que não seja o de revelar os verdadeiros motivos de cada evento, ou seja, não suprindo as falhas de quem quer que seja, apenas prestando o serviço ATC como deve ser prestado, degradado ou não, mas com segurança. Qualquer tentativa diferente disso, através da costumeira iniciativa de “compensar”, quando bem sucedida apenas irá encobrir a incompetência alheia, atraindo para nós mesmos somente os resultados desastrosos.
Uma estória dos tempos da escravidão conta que uma Sinhazinha ao ser cortejada por seu prometido, inesperadamente, pressionada em demasia por seu apertado espartilho, deixou escapar um escandaloso flato. Mais que depressa, sua fiel e sempre presente Aia se adianta e diz: - “Desculpe Sinhozinho, mas o pum que a Sinhá deu, não foi ela, fui eu”.
É preciso abandonar esse costume servil e, através de nossas associações representativas, apresentar ao público interno aeronáutico, através de um canal específico e técnico, todo e qualquer evento que leve o ATC a prestar um serviço de má qualidade, dia-a-dia, a qualquer momento e contra qualquer segmento que descumpra os fins estabelecidos em seu próprio estatuto. Tenho certeza, que se bem elaborado, tornar-se-á, inclusive, uma excelente ferramenta de uso da autoridade aeronáutica para corrigir deficiências.
Dar segurança é nossa responsabilidade, mas agilidade aeroportuária, conforto, eficiência ou até mesmo satisfação com o conjunto que gerencia o transporte aéreo não é. Agindo dessa forma talvez os companheiros voadores na voz das associações de pilotos enxerguem onde está o real problema do setor e a quem devem encaminhar suas críticas e mágoas.
Enquanto a verdade não for explícita, resta-nos contentar com a alcunha de “Papagaio de Torre”, “Guarda de Trânsito Aéreo”, “Controlador de Vôo” de uma “Torre de Comando”.
É bom lembrar também que hoje o honroso termo “trabalho”, foi no passado uma degradante condição escrava de pessoas que labutavam sob açoites de um “tripálio”.
Longe de querer afrontar importantes estudos de grandes personalidades sobre relações sociais, ouso expor as minhas conclusões, tiradas ao longo da humilde vida dedicada ao ATC, que um apelido só pega realmente se você se aborrecer com ele. Infelizmente, como se pode notar, aprendi isso tarde demais.
Um forte abraço a todos vocês. Feliz 2009!
Cachorrão

2 comentários:

  1. Solidário ao extremo com a classe dos Controladores de Voo - a indignação manifestada pelo colega há uns anos atrás é perfeitamente atual e justa! Uma loteria é uma boa paródia e comparação na ausência de outra melhor...nunca quis brincar com a especialidade a qual me dediquei. Sem querer me estender mais, só tenho por hora um pequeno comentário: PELA ECONOMIA BASEADA EM RECURSOS JÁ! O LIVRE MERCADO, TODOS OS 'ISMOS' (capitalismo e o raio que o parta) só servem pra nos distrair da nossa essência preciosa (muito mais do que podemos imaginar) e manter um sistema escravocrata que ninguém quer admitir. Fica aqui uma pergunta ansiosa pela melhor resposta: alguém se sente livre ? Parabéns pela nobre indignação! Precisamos muito disso. Obrigado.

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    1. Um homem honrado não pode perder a capacidade de indignar-se. Obrigado Amigo.

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