sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Sonhar é crime?



Na semana passada, depois de um dia difícil entre consultas médicas, vacinas e remédios controlados, fui me deitar com um forte aperto no peito. A cama parecia não ter colchão, o que me obrigava virar de um lado para outro à espera do sono que demorou a chegar. Num dado momento, de pijamas e chinelos macios, lá estava eu, de frente para o Presidente Lula que, demonstrando surpresa pelos meus trajes, perguntou: -“O que é isso, companheiro?”
Tomado de um êxtase extremo, comecei a balbuciar algumas palavras desconexas que, com o passar do tempo, foram se organizando até ter algum sentido. E sem qualquer interrupção da parte dele, assim eu lhe disse:

- Excelentíssimo Senhor Presidente Lula,
Vim até Vossa Excelência, solitariamente, para um desesperado apelo, uma vez que, a visível falta de empenho, tanto do Ministério da Defesa quanto dos Comandos Militares das Forças Armadas, não conseguem convencer a equipe de Governo de Vossa Excelência da nossa triste realidade. É difícil aceitar essa situação em que as mulheres dos militares têm que tomar a frente da tropa para falar em nome de seus maridos. Isso me faz sentir um tanto covarde e proxeneta e não coaduna com minha formação militar e, muito menos, de cidadão brasileiro.
É cada vez maior a desesperança em dias melhores, ou pelo menos mais dignos, uma vez que essas constantes provocações administrativas nos fazem engolir em seco na hora de contabilizarmos e compatibilizarmos os gastos do mês com nossos proventos. Refiro-me às recentes notícias sobre o pífio reajuste que se pretende dar às Forças Armadas. Bem sabe Vossa Excelência que nós, os militares, não podemos seguir a cartilha do sindicalismo, não temos direito à manifestação pública, tampouco promover greves sob pena de prisão e enquadramento em crime militar. Mas será que esse é o único expediente que Governo Federal considera? Porque se assim for, Excelência, mais dia ou menos dia a instituição militar não resistirá a essas sádicas pressões, e em conseqüência romperá os laços de lealdade com os princípios basilares para buscar, ainda que ilegalmente, o que a ela é devido. Sei que, graças à vossa orientação e formação política, entende bem o que digo, tanto que em março de 2007, após poucas horas de impasse envolvendo controladores de tráfego aéreo, militares, chegou a propor uma gratificação emergencial, sem ao menos aprofundar-se nos méritos da questão. É bom que saiba também que, durante o “Governo Militar”, ao contrário do que muita gente pensa, a tropa do baixo escalão não se beneficiou do “Poder.” A ingênua justificativa dos comandantes de que “o exemplo deveria vir de cima,” só aguçava a ansiedade de seus soldados por dias melhores, sob as ordens de um promissor “Governo Civil”. Ledo engano.
Hoje os ínfimos reajustes salariais que vem sendo prometidos e, ainda assim, nem sempre cumpridos, assemelham-se a migalhas lançadas com pura intenção revanchista. Acontece que esses revides estão sendo endereçados às pessoas erradas, pois no passado, seus opositores nunca estiveram entre nós, os molambos, mas sim, envoltos em comendas e medalhas, misturados ao grupo palaciano que jamais abandonou a fidalguia e pelo jeito, jamais abandonará.
As Instituições Militares, Excelentíssimo Senhor Presidente, em sua esmagadora maioria, é composta de homens corajosos e valentes, que só recuam se for por estratégia, mas que dão suas vidas por uma causa, se julgarem que ela é legítima. Não me cabe medir o nível de confiança que os atuais comandantes militares exercem sobre seus comandados, mas com certeza, não fazem por merecer uma coesa admiração. Ainda que sejam “leões a comandar ovelhas”, a hierarquia e a disciplina também têm um preço: “O respeito mútuo”.
E para finalizar, Excelentíssimo Senhor Presidente da República, antes que eu acorde, gostaria que soubesse que, se por ventura este meu involuntário sonho for suficiente para afastar-me do convívio de minha família e recolher-me por alguns dias entre quatro paredes de um quartel, se levar Vossa Excelência a pensar no assunto, já terá valido a “pena.”
- “O QUE FOI QUE VALEU A PENA? HEIM? DEVE ESTAR SONHANDO COM ALGUMA SIRIGAITA!”
Sem entender o que se passou, acordei com minha mal humorada esposa lamentando seu sono interrompido por meus resmungos. Caramba! Tinha que me acordar bem na hora que ele ia falar alguma coisa?
Virei de lado, busquei dar continuidade ao sono e ao sonho e acredite, consegui. Mas que pena, de nada adiantou, pois ele tinha acabado de viajar para o Iraque.

Ai meu Deus! Será que sonhar é crime?

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