domingo, 23 de janeiro de 2011

Acertando as contas.

Um controlador de tráfego aéreo ou bebe, ou fuma ou é veado! Era assim que se auto definiam os intrépidos precursores do ATC brasileiro. Com certa razão era esse o comportamento que dominava a classe naqueles tempos tão machistas. Éramos alegres, audazes, orgulhosos de exercer uma tarefa ímpar e de desempenho irretocável. Éramos capazes de identificar aeronaves numa tela de RADAR como pequenos grãos de arroz e, independente de quantas outras tivessem sendo controladas simultaneamente, saber o tempo todo quem eram, em que altitude estavam, seus destinos, velocidades e restrições. Nada de etiquetas ou correlações automáticas nos alvos. Na TWR nada de TARIS, apenas uma sequência de luz amarela e vermelha. Tudo dependia de atenção e criatividade. Por certo que hoje, diante da grande confluência de tráfego para as grandes áreas terminais, não seria possível trabalhar com aquele modelo, mas com certeza, o número de aeronaves controladas simultaneamente por um único controlador era infinitamente maior. O layout atual substituiu os antigos postos de controle que se resumiam em “chegada e saída” por vários setores distintos, com separação lateral e vertical, limitando o número de aeronaves dentro de cada um deles, onde atuam, com certo conforto, um controlador e um assistente.
Da mesma forma que hoje se racionaliza os conhecimentos de um piloto dando ênfase a sua atuação como operador de sistemas, já se fala também na extinção do ATCO. A evolução tende a criar gerentes de um sistema automatizado que permite uma interação eletrônica direta entre auxílios de solo, satélites e computadores de bordo sem qualquer intervenção humana. Um único piloto no cockpit seria apenas um backup para uma eventual falha do sistema. Um único gerente de fluxo seria necessário para monitorar sensores e atuar diante de imprevistos, intempéries, acidentes de uma determinada área ou setor. Já pensaram?
A propósito, iludido pela mídia e imitando os ídolos da minha juventude, fumei e bebi inadvertidamente por anos a fio. Hoje, como num acerto de contas, pago um alto preço por isso. Quanto àqueles controladores que nunca beberam e nunca fumaram, que sorte a deles! Como? Ah sim, claro... São veados, mas são meus amigos!
Celso BigDog

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