terça-feira, 20 de abril de 2010

A sombra da dúvida.

Não vou falar sobre a nuvem de poeira que cobriu o planeta e causou a extinção dos dinossauros. Vou tratar apenas de um assunto mais contemporâneo, que leva a aviação a evoluir, a criar normas e a se preparar de forma defensiva ao menor sinal de perigo, a Prevenção.
Depois de muitas quedas com suas máquinas voadoras o homem descobriu, entre outras coisas, que as asas, os tubos de pitot, as janelas, o combustível e tudo o que estivesse exposto ao ar nas alturas, congelava, travando comandos, distorcendo indicações, descompensando a estabilidade de voo e alterando o centro de gravidade da aeronave. Quase sempre, esses eventos culminavam em acidentes. Da necessidade de se contornar a situação, foram desenvolvidos diversos mecanismos de aquecimento, como fuel heat, pitot heat, wing anti-ice e muitos outros, pondo fim àquela circunstância que inviabilizava os voos em grandes altitudes, e consequentemente, voos de longa distância. Mas, esse inconveniente “mas”, como sempre, traz à baila mais uma nova e previsível preocupação: os vulcões.
Depois do quase consumado acidente do Jumbo da British Airways nos idos de 1982, causado por cinzas vulcânicas (vídeo anexo), normas operacionais de prevenção foram criadas, entre elas a suspensão das operações no espaço aéreo contaminado.
Assim como no caso do gelo, enquanto soluções técnicas não forem implementadas, mantém-se as restrições operacionais. O desafio agora é inventar um filtro para entrada de ar da turbina e do tubo de pitot. Providenciar também um escudo externo deslizante sobre o pára-brisa, ao estilo do saudoso Concorde - “Nose down” durante o taxi, pouso e decolagem, e “nose up” durante o resto do voo - Mas, enquanto isso não chega para nos resguardar dos 600 vulcões ativos no mundo, é bom que o usuário do transporte aéreo entenda, de uma vez por todas, que não podemos desprezar o conceito de prevenção que adquirimos, através de experimentos impagáveis, de resultados inimagináveis, com cobaias insubstituíveis. Temos que insistir na doutrina prevencionista, cosmopolita, ainda que o poder econômico nos açoite com insultos, nos torture com a sombra da dúvida, nos ridicularize com ilações jocozas, e use inescrupulosamente o cansaço e a intolerância dos passageiros como arma contra nossas convicções mais cristalinas.

Costumo afirmar que “da mesma forma que alguns dizem não haver maior nobreza do que a tarefa de resgatar corpos e juntar destroços, digo que não há sentimento mais indigno e vergonhoso para um Elo SIPAER, do que constatar que falhas conhecidas tornaram-se fatores contribuintes”.


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