segunda-feira, 30 de abril de 2012

Não me venha com cicuta. Deixe-me filosofar!


 Publicado em 21 de Dezembro de 2008

“- A verdade não está com os homens, mas entre os homens.”
Sócrates
Que desgraça maior pode haver do que a desesperança? O que pode ser tão frustrante quanto um coito interrompido senão um ideal desfeito? O que pode ser mais desanimador hoje do que a chegada dessa ICA 100-25, quando esperávamos ansiosamente por algo mais nobre, como por exemplo o reconhecimento profissional? Enquanto nos esforçamos gratuitamente para atingir a excelência no trabalho ATC, tropeçamos nesse obstáculo burocrático, descabido e desagregador.
Basta passar rapidamente os olhos nas páginas da dita cuja e de pronto já se sente o peso indigesto da discriminação e do preconceito contra o Controlador de Tráfego Aéreo. Mesmo estando na reserva senti-me ferido por essa formalização de apartheid castrense. Deveria ser motivo de honra pertencer à única especialidade do SISCEAB que, pela responsabilidade agregada ao desempenho da função, tem uma instrução só para si, mas não é. Diferente do que se propunha o falecido Manual do Controlador, essa instrução não se manifesta na direção da segurança, da qualidade do trabalho e de vida. Simplesmente recria dentro da corporação uma justificativa para o uso da palmatória, dos joelhos no milho e reedita o chapéu adornado com orelhas de burro, para subjugar e assediar coletivamente seus subordinados, justamente aqueles mais comprometidos e sensíveis à segurança aérea. Acredito que pelo “andar da carruagem”, numa primeira revisão da publicação, podemos esperar a inclusão de emendas como “O uso racional do corrimão nas escadas da TWR”; “Procedimentos para a profilaxia bucal e de próteses dentárias do ATCO”, ou ainda “Tabela de altura para cálculo do distanciamento correto do vaso sanitário para a micção masculina em pé”.
Não imagino onde isso pretende nos levar. Temo que o País pague novamente um alto preço por esses ingênuos equívocos que, de efeito retardado, eclodirão somente daqui a cinco ou dez anos, exatamente quando seus idealizadores já estiverem afastados da ativa da Força e a salvo das responsabilidades administrativas, que o tempo se incumbirá de apagar. Nós já assistimos a esse filme. Amanhã a história se repetirá, reeditada com um novo diretor, novo elenco, novos equipamentos, novos sistemas, mas conservando os velhos problemas de ontem e de hoje.
Num País de esfomeados, de escassez de oportunidades, onde um chefe de família prostitui suas filhas em troca de cestas-básicas, não será difícil arregimentar rapidamente voluntários, em quantidade suficiente para suprir as lacunas deixadas pelo o êxodo dos BCT. Também não será difícil convencer a opinião pública entupindo as torres de controle com jovens uniformizados e servis. E se hoje a questão da qualificação operacional já nos preocupa, o que dizer desse futuro próximo quando a baixa capacidade técnica, a baixa qualidade intelectual e a alta rotatividade na carreira, depararem-se com o vertiginoso aumento das operações aéreas decorrentes da Copa do Mundo de 2014 e, quem sabe, das Olimpíadas Rio 2016? Até quando será possível “alugar os dinossauros do ATC” como se fossem carpideiras a comporem o teatro que disfarça as fraquezas do Sistema?
Não temos muito tempo para corrigir essa deriva, pois a situação se encaminha para uma condição endêmica no SISCEAB. Se não houver um empenho coletivo, se uma respeitosa união de todos os níveis hierárquicos não se consolidar em torno da questão, podem ter a certeza de que em breve a segurança aérea estará sendo silenciosamente estuprada, exposta a riscos indescritíveis, incalculáveis e inacreditáveis.

“- Que se tenha o máximo de documentação. Façam filmes, gravem testemunhos, porque com certeza, ao longo da história, algum idiota se erguerá para dizer que isto nunca aconteceu”.
General Dwight David Eisenhower - 1945

Estando imbuído do mais nobre espírito Sipaer, é assim que eu penso.
Paz e Bem!
Celso BigDog

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