domingo, 4 de março de 2012

Os "olhos" da tropa...


2007
A degeneração da ética e da moral abala os calcanhares da hierarquia e da disciplina e põe em risco a estabilidade da instituição militar gerando medo. Se analisarmos os fatores contribuintes para este imbróglio, concluiremos que os lampejos de indisciplina da tropa ATC encontram amparo no cumprimento das funções constitucionais e derivam da dificuldade de aceitação dos maus exemplos advindos do alto escalão militar.
"O líder que exercita o poder com honra trabalhará de dentro para fora, começando por si próprio." (Blaine Lee)
A tropa viu um Ministro da Aeronáutica, ex-comandante do CINDACTA1, alcovitando literalmente por baixo da mesa, repassando bilhetinhos passionais de Bernardo Cabral para sua musa Zélia Cardoso, onde descrevia sua saia como “deliciosa”. Enquanto era feito o “correio elegante” desse adultério explícito, os tenebrosos destinos da Nação eram traçados na reunião ministerial presidida por Fernando Collor.

A tropa viu
outro Ministro da Aeronáutica exonerado por supostas irregularidades na instalação do SIVAM, esvaziar as gavetas de seu gabinete, abraçar o cabedal aeronáutico de segurança nacional e se bandear para presidir um sindicato patronal rico, levando consigo todo o conhecimento estratégico para alimentar a ganância empresarial do setor aéreo.

A tropa viu
um Diretor Militar do extinto DAC autorizar, quando na atividade, contratos de carga aérea para a Rede Postal Nacional a serviço dos Correios, e ao passar para a reserva, assumir como consultor tanto dos Correios quanto da empresa exploradora do serviço, acendendo velas a Deus e ao diabo. Para essa manobra carreou consigo todo o conhecimento estratégico e toda a sua influência na aviação civil.

A tropa viu
certo Comandante da Aeronáutica, de questionável desempenho no gerenciamento da crise, permitir que a Proteção ao Vôo brasileira, apesar dos gritos de socorro, despencasse para o abismo sem ao menos estender-lhe as mãos. Sequer juntou os cacos para transferi-la ao seu sucessor. Limitou-se a sacudir o pó e esfregar as mãos empoeiradas na farda. Pelo mau gerenciamento foi contemplado com um posto de destaque na ONU.

A tropa viu
a incompetência administrativa e supostamente criminosa da diretoria da ANAC ser condecorada com a “Medalha Santos Dumont”, honraria que muitos profissionais da aviação, extremamente competentes, jamais sonharam receber.

A tropa viu
muitos outros ex-comandantes galgarem postos de direção na elite estatal e se fartarem com as mazelas do corporativismo mesquinho. Isso sempre fez revirar as lombrigas na barriga do pobre subalterno, ávido por um mísero gesto de reconhecimento e respeito profissional que nunca recebeu.

A tropa viu
a reportagem onde o Promotor da Justiça Militar João Rodrigues Arruda diz ao jornalista Paulo Henrique Amorim: “O comando militar é a única função pública que se não for executada com eficiência, caracteriza crime”. (art. 198 CPM)
... “deixar o comandante de manter a força sob seu comando em estado de eficiência”, é crime;
... “se o controlador não está eficiente por falta de instrução”, é crime do comandante;
... “se o controlador não está eficiente por indisciplina”, é crime do comandante;
... “se é deficiência de material”, é crime do comandante.
De nada adianta a existência do Código Penal Militar se ele não for aplicado, pois a única coisa que a tropa não viu até agora, foi um puxão de orelhas sequer nas autoridades envolvidas.

A tropa viu
o Comando da Aeronáutica, em altos brados declarar que se houvesse aumento salarial, seria para todos os militares indistintamente. Mal o assunto esfriou entre cochichos pelos cantos da caserna e os comandos, isoladamente, receberem cinqüenta por cento de aumento em seus vencimentos.

A tropa viu
numa simples troca de roupa, seus ex-comandantes assumirem “apaisanados” a direção de projetos no seio da Força Aérea, queimando verbas bem intencionadas do PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, nos mesmos projetos que eles próprios acabaram de assinar na ativa.

A tropa viu também o desvanecimento de algumas estrelas cadentes, alijadas do grupo palaciano, destituídas da autoridade galáctica, despojadas de suas benesses de gabinete e comando, não serem agraciadas com as funções “compensatórias pós-atividade”. Essas estrelas que esmaecem no céu cinzento, trocaram também seus uniformes camuflados e coturnos por pijamas e pantufas e da desbotada varanda azul barateia do Clube da Aeronáutica, proferem insultos e blasfêmias, rogando pragas no governo que também os esqueceu.

A tropa viu
e hoje em dia enxerga muito mais, pois, pelo descrédito na carreira, viu-se obrigada a estudar e a buscar caminhos alternativos de futuro. O nível universitário, a internet, os meios de comunicação abertos e explícitos, modificaram o perfil coletivo e o grupo, outrora passivo e complacente, passou agora a “pensar”.

E assim se fez o caos, assistido pela tropa incrédula, mas silenciosa e ordeira.
E assim se fez o caos pelo descumprimento forçado de regras e normas internacionais.
E assim se fez o caos levando às lágrimas de sargento a brigadeiro, não por covardia, mas pela injustiça e pela vergonha de estarem vivendo esse momento sem precedentes.
E assim se fez o caos pela impunidade no desastre administrativo de comandos.
E assim se fez o caos pela não observância ao conceito de hierarquia citado por Eduardo Gomes. E por falar nos ensinamentos deixados pelos “18 do Forte”, como -“À Pátria tudo se deve dar e a ela nada se deve pedir, nem mesmo compreensão,” pergunto: Teria a “Pátria” de Siqueira Campos o mesmo sentido que “comando”? Servir à Pátria, no aspecto constitucional, seria tão somente servir ao comando? A punição militar deve ser empregada àqueles que transgrediram códigos militares em favor da segurança civil? Se graduados estão sendo processados por suspenderem o serviço para manter a segurança aérea, o que dizer dos oficiais que abandonaram seus postos durante 3 dias por discordarem de seu “comandante supremo”: o Presidente da República? Se graduados estão sendo processados por descumprirem uma Instrução do Comando da Aeronáutica, o que dizer do comando que descumpre o Regulamento Disciplinar da Aeronáutica quando permite que um graduado seja encarcerado no xadrez sem julgamento?

A tropa ATC viu, não entendeu e já não sabe mais a quem servir. O perigo reside no fato de que ela já não distingue os significados de medo e respeito, tampouco de Pátria e Poder.

“A diferença entre um chefe e um líder é que um chefe diz, Vá! e um líder diz Vamos!” (E. M. Kelly)
É assim que eu penso.

2 comentários:

  1. Legal, a tropa viu isso e os controladores continuam ganham R$3000,00. Qual o pior cenário que poderia acontecer de pior para as autoridades se sensibilizarem? Duas ACFT colidirem em rota? Militares se aquartelarem? Já aconteceu e nada mudou. Ou seja... tudo continuará igual...

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  2. 1) Qual o pior cenário que poderia acontecer de pior para as autoridades se sensibilizarem?
    2) Duas ACFT colidirem em rota?
    3) Militares se aquartelarem?

    Qualquer uma das anteriores. O objetivo é que isso seja discutido em âmbito técnico com todos os participantes do meio aeronáutico. De nada adianta o DECEA tomar suas medidas se a infraestrutura não suporta e a aviação civil não se importa. O pensamento tem sido: "Se meu lado está ok, os outros que se explodam, no chão ou a 37 mil pés de altitude".
    Quanto a um novo aquartelamento quero lembrar que o homem é o único ANIMAL que cai num mesmo buraco mais de uma vez. Talvez as autoridades não se sensibilizem pela impunidade garantida pela rotatividade que tem. Uma ação impensada hoje, pode apresentar seus efeitos somente daqui a anos, quando muitos dos mentores estarão na reserva/aposentados ou mortos.
    As coisas mudarão radicalmente nos próximos 10 anos (já om 10 anos de atraso)e os novos cyber-controllers darão conta do recado na sua relação com as aeronaves sem tripulantes técnicos.
    O que esperar? Vamos passar vergonha no acesso e uso dos aeroportos/estádios durante os eventos esportivos, mas nada que mulatas seminuas, não resolvam sambando para gringo ver em cada aeroporto.
    É assim que eu penso.

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