sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

29 de Setembro de 2006 - Divisor de Céus!


1ª Turma de "Controladores de Vôo" do Brasil.
(deitado: Francisco Drezza - o 1º Controlador RADAR)

Era uma véspera de feriado prolongado, por volta de oito e meia da noite. O burburinho na sala do APP São Paulo se avolumava e as coordenações entre setores eram realizadas em sua maioria por pantomimas, linguagem que o tempo de convivência em equipe espontaneamente convencionou. Enquanto controlávamos os aviões, porta-strips eram lançados como discos de um jogo de malhas, deslizando certeiros pelo chão da ampla sala, substituindo a tarefa da transferência eletrônica que o sistema não conseguia realizar. É incrível a capacidade do ser humano de se adaptar às dificuldades, criar soluções eficazes e comunicações futuristas, quase telepáticas. Os controladores se entreolhavam e as ações coordenadas fluíam como jogadas ensaiadas de um “dream team”, de uma equipe que, em tese, nunca poderia perder. Um único supervisor, “ziguezagueando” pela sala, tentava alinhavar os tráfegos que brotavam perenes dos três setores distintos, para despejá-los nos três principais aeroportos da terminal. Aquela era uma tarefa que, de tão imprevisível, nos impulsionava a fazer um “Sinal da Cruz” no início e no final do turno. Todas as ações eram...

Caro Controlador,
Comecei este texto movido pelo saudosismo, mas ao iniciar a digitação notei que o tempo realmente passou. Hoje não há espaço para paixões no controle de tráfego aéreo. Não há lugar para “super controladores”. Não há como realizar essa missão no improviso, na gambiarra, no amadorismo. Nossas antigas convicções murcharam com a dolorosa experiência vivida em 29 de setembro de 2006.
A ignorância que, por décadas cegou nossa visão do perigo, feneceu diante das facilidades da informação em tempo real, da telefonia móvel, da rede mundial de computadores, e sepultou de vez a soberba operacional que nos qualificava como “anjos da guarda”.
Hoje, mais do que nunca, reconheço que foi a providência Divina que nos protegeu e nos guiou nesse obscuro período. Protegeu-nos enquanto trilhávamos os caminhos desbravados por Chico Drezza, vivendo apaixonadamente no fio da navalha. Protegeu-nos porque, até então, a nossa irresponsável ousadia era fruto de uma doce inocência.
Agora que a candura abandonou o Controle de Tráfego Aéreo, agora que e o senso de responsabilidade aguçou nossos sentidos, agora que o conhecimento e a prudência começam a fluir em nossas veias, não justifica ficarmos alheios às mudanças, pois hoje, a palavra de ordem no ATC é “Participar”.
Pesquisem, discutam, opinem e ajudem a escrever a história de uma nova era.
O sonho não acabou. A inocência sim!
Pensem nisso!

Um comentário:

  1. Uma importante ressalva:
    Rui Rodrigues Saraiva (sentado). Fez o curso de sargento na antiga Escola Técnica de Aviação, em São Paulo junto com Drezza. Foi pra Belém em 1944, quando a Base Aérea ainda era dos americanos.

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