terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O que se tem feito em prol do ATM?


Esse é um assunto a ser discutido por todas as ramificações desse imenso complexo aéreo. Muitas medidas que parecem ter um apelo de segurança esbarram na falta de visão de quem as elabora, até por que se origina de um único ponto de vista, ou seja, “a visão daquele que determina”. Uma canetada consolida o pensamento concluído com a frase: “Acho que tem que ser assim”, e pronto!
A aviação já não permite mudanças na base da tentativa e erro como nos tempos de Dumont ou de Drezza. Por menor que seja a deriva dos resultados esperados, essa divergência de objetivos acarretará ao final de um período um enorme prejuízo à economia do país. A conta será apresentada às Cias Aéreas, que por sua vez tentarão repassar ao cidadão que usa o transporte aéreo. Pressionado pela opinião pública, o Estado posando politicamente como defensor de seu povo, como se não tivesse nada a ver com o assunto, impede que as aéreas repassem essa conta ao usuário, gerando déficit de caixa e adoecendo economicamente as empresas. Esse ciclo vicioso tem um agente causador, e me parece que é o próprio Estado.
Temos visto intervenções em gerenciamento de crises no ATC onde medidas generalizadas de prolongamento de rotas são adotadas com um único objetivo: “desviar o usuário de uma determinada área onde o provedor é incapaz de prestar o serviço”. Isso não é racional.
Outra medida questionável é a seguinte:
-“Os vôos de longo percurso terão prioridade sobre os de menor percurso!”
Vamos pensar juntos?
Se temos duas aeronaves chegando para SBGR, sendo uma de KMIA e outra de SBGL, e tendo que aplicar um atraso de 15 minutos a uma delas, qual seria a escolhida?
Pelos critérios do CGNA seria aplicado à aeronave de SBGL. Será? Vamos analisar:
Vôo KMIA/SBGR: TEV oito horas (480 minutos);
Vôo SBGL/SBGR: TEV 30 minutos;
Vôo KMIA: Tripulação simples (2 Crew Técnicos), 1 decolagem, 1 pouso, desgaste normal de combustível, conjunto de freios e pneus, ciclos de motor e APU. Após uma única jornada a tripulação irá descansar.
Vôo SBGL: Tripulação simples (2 Crew Técnicos), 1 decolagem, 1 pouso, desgaste normal de combustível, conjunto de freios e pneus, ciclos de motor e APU. Após essa jornada a tripulação deverá assumir outros vôos até completar o tempo máximo de programação que a Regulamentação do Aeronauta (Lei 7.183) permitir (jornada de 11 horas ou 9 horas e 30 minutos de vôo ou 5 pousos).
Um atraso de 15 minutos no vôo de KMIA representa inexpressivos 3,125% de acréscimo no tempo total.
Um atraso de 15 minutos no vôo de SBGL representa um absurdo acréscimo de 50% ao tempo total, inviabilizando comercialmente todo o vôo, ainda que a taxa de ocupação da aeronave seja de 100%.
Então? A quem se deveria aplicar o atraso mesmo?

domingo, 28 de dezembro de 2008

O que é Autarquia?


Ajudando a esclarecer:
Autarquias são pessoas jurídicas de direito público e possuem capital exclusivamente público. São criadas e extintas somente através de lei específica.
As autarquias têm autonomia administrativa e financeira, além de patrimônio próprio. Não há vínculo hierárquico ou subordinação entre as autarquias e a Administração direta, mas esta realiza um controle sobre aquelas, quanto à sua legalidade ou finalidade.
As autarquias também são dotadas de imunidade tributária em relação aos impostos. Além disso, estão incluídas na expressão Fazenda Pública, tendo os privilégios processuais fixados no CPC (quádruplo o prazo para contestar e o dobro para recorrer).
A responsabilidade pelas obrigações contraídas por essas pessoas a elas pertence, podendo admitir-se, no máximo, seja o Estado chamado apenas em caráter subsidiário, vale dizer, apenas depois de esgotadas as forças da autarquia (não se cogita aqui da possibilidade de o Estado responder em caráter solidário). Em razão das atividades que desenvolvem (serviços públicos), as autarquias não se submetem ao regime falimentar.
São exemplos de autarquias o INCRA, o IBAMA, o INSS, o BACEN, etc. Lista de Autarquias do Brasil

Veja também: O que é OSCIP?
CelsoBigDog

sábado, 27 de dezembro de 2008

Uma marca, um escalpo!


Depois de uma contenda que nos lembra histórias entre Tupiniquins e Tupinambás, onde um sempre acaba comendo o outro, a Rosa dos Ventos da anciã VARIG ainda risca os céus brasileiros, mas arrastada e subjugada, e exibida como um escalpo nas mãos da GOL. Alguns pontos cardeais da estrela se perderam na estilização dos desígnios reservados a ela pelo clã dos Constantino, e o tom alaranjado não deixa qualquer sombra de dúvida sobre quem manda agora.
Que sorte teve a PANAIR do Brasil, de ver-se vingada pelas mesmas desculpas esfarrapadas que a liquidaram e espoliaram suas linhas no passado em prol dessa mesma VARIG;
Que sorte teve a Cruzeiro do Sul de ver-se vingada. Pelo vexame de ter sua frota propositalmente deteriorada, enquanto sua dominadora VARIG brilhava em mimos, numa clara intenção de extermínio da marca Cruzeiro;
Que sorte teve a Transbrasil. Apesar de ter sido devorada pela GOL, de não ser obrigada a ver um arco-íris monocromático, em tons alaranjados a pintar o céu.
Que sorte teve a VASP. Sucumbiu mas não se permitiu ser rebocada com o nome de São Paulo como se fosse propaganda aérea a sobrevoar as praias.
Se eu fosse um ex-piloto da Panair, da Cruzeiro, da Transbrasil ou da VASP, tiraria do armário aquele velho uniforme que com certeza teria guardado com carinho,para escová-lo, e vesti-lo em homenagem aos velhos e saudosos tempos.
Que triste fim VARIG. VARIG. VARIG

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

No fundo do poço.


Contam que certa vez um burro chamado Ático caiu num poço muito profundo. Por mais que tentasse escalá-lo e voltar à superfície, seus esforços eram em vão. Um cachorro que por ali passava lhe disse:
-“Acho que sei uma maneira de ajudá-lo. Espere só um instante.” Voltou minutos após trazendo na boca um volumoso livro com o título: “Como sair do fundo do poço”, e lançou-o ao pobre muar.
Apesar da deficiente leitura e da pouca luminosidade para enxergar, o burro terminou o livro, mas sem conseguir entender qual seria a solução para o seu caso, e continuou enclausurado.
Ouvindo a zoada do animal vinda das entranhas da terra, um porco parou para ajudá-lo. Escutando suas lamentações, disse sem pestanejar: “Espere ai amigo! Acho que tenho a solução”, e saiu correndo em busca de algo. Quando voltou, empurrava com o focinho, como se estivesse chafurdando um imenso livro e o lançou dentro do poço. O burro pegou-o e leu em voz alta: “Como escapar de um poço fundo”. Leu-o com dificuldade e enquanto havia um fio de luz, ele insistia. Mas que pena, mais uma vez não entendeu a leitura e permaneceu lá no fundo.
O macaco, o gato e muitos outros animais se empenharam em colaborar com a tentativa de tirá-lo dali, trazendo publicações das mais variadas formas que falavam sobre o assunto, mas o resultado era sempre o mesmo: o fracasso. E nessa tentativa de ajudar o amigo burro, os animais acabaram, ao longo do tempo, criando outro problema para o infeliz: “A falta de espaço”. O peso dos livros sobre suas costas e pernas transformou o ambiente, que já era pequeno, num aperto sem tamanho.
O burro totalmente derrotado, mas incomodado com aquela situação, procurou empilhar aquele mar de livros, apostilas, revistas, jornais e sem notar que aquela imensa maratona de leitura lhe tinha sido benéfica, foi colocando um livro sobre o outro. Ao colocar o último volume, o burro sentiu o frescor de uma brisa na cara e uma forte claridade que quase o cegava. Incrédulo notou que estava na borda do poço, e num pinote saltou para a liberdade.
O conhecimento e o saber para enfrentar os obstáculos da vida quase nunca se revelam com uma simples leitura. A "Educação Continuada" que acumula conhecimento no dia-a-dia trará espontaneamente a solução para o problema, assim como ocorreu com o burro Ático.
Não sei se escrevi isso como resultado de um efeito subliminar, mas é assim mesmo que eu penso.
Que em 2009 tenhamos muitos amigos a lançar conhecimento nesse poço fundo chamado ATC. Só assim conseguiremos escalar os obstáculos e atingir o respeito profissional que tanto almejamos.
Mário Celso Rodrigues

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Renovando as Esperanças!

Caros Controladores de Tráfego Aéreo,
Esses são os dizeres mais sinceros que eu já consegui escrever.

Mário Celso Rodrigues
Celso BigDog

domingo, 21 de dezembro de 2008

ATC ... eu ainda te amo!


Dizem que “todo castigo para o corno é pouco”, e não existe algo pior para um homem do que amar uma prostituta convicta. Mesmo sabendo disso, eu confesso que já amei. Por mais que eu tenha tentado evitar, não pude resistir. Busquei modificar seus costumes, mostrar suas falhas, implorar sua atenção, mas qual o que. Sempre nas nuvens seus pensamentos se permitiam vagar ao vento e surfar em ondas enquanto eu, sempre com os pés no chão, gritava preocupado.
Ana Thereza Costa era o seu nome, mas eu a chamava carinhosamente de ATC. Filha bastarda de um militar da aviação que nunca a assumiu de verdade. Foi criada por uma boa família, mas perdeu-se na vida pela convivência no meio castrense. Sua mãe Fabiana, lavadeira do quartel, nunca conseguiu sequer tirar seu registro de nascimento. Assediada por militares, empresários e provedores, deixou-se levar pelas sevícias e pelo dinheiro fácil de seus cáftens. Mesmo sendo muito disputada, durante 31 anos a mantive como meu grande e perverso amor. Por ela privei a mim e à minha família de uma vida normal, de hábitos comuns e de convivência social. Corri o mundo servindo aos seus caprichos, abandonando de tempos em tempos minhas eternas novas amizades. Precisei adaptar-me aos costumes e regionalismos dessa terra, pois seu espírito cigano sempre a impulsionava a se mudar, mas eu a seguia. Minha esposa e meus filhos pagavam um alto preço na adaptação às novas escolas e na prospecção de novas amizades. Durante todos esses anos criei poucas raízes em minhas andanças e sequer tive tempo de pensar no meu futuro.
As rivais consentiam essa descarada bigamia, mas ainda que eu jurasse meu amor por ambas, não se aceitavam. A cada domingo ausente, Natal, Reveillon ou Carnaval, um veemente protesto da esposa ou da amante me atormentava. As noites passadas em claro ouvindo e compartilhando suas íntimas experiências de vida, roubaram sutilmente minha saúde, que jamais recuperei.
Ainda hoje, sempre que seus encantos visuais começam a perder o viço, rapidamente ela cede aos caprichos de seus clientes, meus rivais, e satisfazendo suas bestiais necessidades, consegue meios para tornar-se novamente uma figura vistosa e encantadora. Eu que a acompanhei por mais de 30 anos sempre soube o que se esconde por traz de sua beleza artificial. Seus olhos turvados já não enxergam bem. Sua voz, outrora melodiosa, brota agora de uma linda boca cravejada de dentes reluzentes, mas com rouquidão, falhando por vezes e dizendo coisas sem nexo, vindas não sei de onde.
Ah minha ATC! Se você vier a ler este texto, quero que pense em nossa história. Apesar de termos rompido nossa relação há três anos, continuo a monitorar seus passos. Dizem coisas horríveis a seu respeito, mas eu acredito, justamente por conhecê-la tão bem. No mais, só me resta rezar para que você se afaste das más companhias, mude seu sistema, encontre alguém que a respeite e a tire da zona. Que lhe dê um registro e defina regras que você consiga cumprir. Exija também que seu novo amor não seja comprometido com mais ninguém e que a ame muito, assim como eu sempre amei.
Cuide-se!
Celso, o teu cachorrão!

Operação "Tapa Buracos"



Ultimamente as autoridades do meio aeronáutico brasileiro têm se empenhado em gastar o dinheiro do PAC – Plano Anti-Caos, na “Operação Tapa-buracos” do setor aéreo. Nota-se que tapumes estão sendo colocados para isolar o usuário do transporte aéreo da estrutura aeroportuária carcomida pelos cupins da incompetência administrativa. Negociam os aeroportos brasileiros como o "Jogo do Mico", aquela carta indesejável que ninguém quer estar com ela no final. Ainda assim, pode-se notar que um ou outro jornalista se arrisca a apostar que a normalidade foi atingida.

Incrédulo a milagres dessa natureza, pergunto: “Quem me garante que”:

- os atrasos, as aglomerações de passageiros nos aeroportos não foram diluídas pelos aeroportos de todo o país, dando a falsa sensação de normalidade?

- os desvios de rotas, por caminhos mais longos, que eliminaram a incômoda sensação de permanência das aeronaves em órbita não tenham aumentado brutalmente o consumo de combustível das empresas aéreas, se anteriormente a penalização só se aplicava quando necessária a algumas aeronaves, e hoje se aplica a todas?

- as tripulações não continuam a se arrebentar em jornadas prolongadas tendo como desculpa o uso regulamentar da “imperiosa necessidade”?

- a capacidade aeroportuária de absorver o volume de tráfego foi resolvida se esse gargalo sempre foi creditado injustamente ao controlador e não à Infraero?

- as empresas aéreas não continuam a se utilizar do expediente de transferir panes de aeronave para aeronave até que a peça defeituosa chegue voando à base de manutenção para troca definitiva, sob a desculpa esfarrapada “trocado wing anti-ice esquerda do PP-PPP com a direita do PP-QQQ para pesquisa de pane”?

Eu só tenho certeza que a pressão militar sobre os controladores os impede de dizer que “tudo está como dantes no quartel de Abrantes”. Nada mudou para melhor. O que há de novo é um número maior de controladores recém-formados que sequer sabe atender ao telefone, e um ou outro jornalista adulador de ministro, a publicar: “- Parabéns Ministro, minha viagem no carnaval foi uma maravilha”!

Quando se fala em problemas no transporte aéreo “o buraco é mais em cima!” Os controladores continuam investindo tudo o que possuem num PAC - Plano Anti-Colisão, enquanto aguardam ansiosos por outro PAC - Plano de Atividade Civil, mas são massacrados pela Aeronáutica no único PAC que vingou até agora: o Plano Anti-Controlador.

2020 DC - FEAR - Fábrica de Especialistas em Aeronáutica



2020 DC - Fábrica de Especialistas em Aeronáutica
Primeira Série de Unidades Especializadas em Tráfego Aéreo (UETA)
Sonho de qualquer comandante ou chefe militar é ter um grupamento assim. Se a “unidade” (e não indivíduo) não funcionar a contento, reprograme-a. Se der tilt, reset-a! Se a inteligência artificial começar com frescuras humanizadas, delete-a.
O que será de nós? Seremos meros supervisores dessas máquinas? Seremos simplesmente os algozes que executarão as tarefas de reprogramar, resetar ou deletar essas unidades? Seremos os novos CTA - Controladores de Tecnologia Aérea? O que será de nós em 2020, pobres mortais?
Perigo! Perigo! Não tem registro, não tem registro...

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Cicatrizes de um “Sub-consciente”.



Emergindo dos lençóis saltei assustado da cama. As luzes foram acesas de uma só vez, e de assalto uma inesperada incursão rompeu o silêncio. Os ponteiros do relógio na entrada do imenso alojamento coletivo marcavam duas e meia da madrugada. Acompanhado de dois soldados armados de fuzis, gritou histericamente o tenente aos pés de minha cama:
- Você é o Rodrigues? Levanta! Você está preso! Tem três minutos para vestir o décimo!
- Mas o que houve?
- Você deve saber muito bem o que houve! Vamos! Acelerado!
Os dois soldados se colocaram um de cada lado da cama e alternavam-se, hora olhando o jovem tenente como se esperassem dele uma ordem para atirar, hora medindo-me dos pés à cabeça como um gesto explícito de desprezo. Pude sentir o cheiro do óleo lubrificante dos fuzis que roçavam na cama impregnando o lençol. Meus vizinhos de leito, vergonhosamente, apesar do estardalhaço, fingiam dormir um sono profundo, simplesmente para não compartilharem aquele momento humilhante e indigno.
Tentei ainda questionar, mas diante da ausência de respostas, pus-me a vestir o décimo uniforme de brim azul barateia, característico do pessoal de serviço e dos presos. Enquanto abotoava os incontáveis botões da gandola, perguntava a cada um deles, um por um: - Por quê? Mas nem mesmo os meus botões que compartilhavam da minha mais íntima consciência sabiam o que me responder. Calcei o borzeguim, passei um pente no cabelo e segui rumo à porta do alojamento escoltado pelos soldados. Ao sair, não podia imaginar que um movimento tão grande de pessoas pudesse ser encontrado nas alamedas da Academia àquela hora da manhã. O burburinho de vozes e vultos misturados à zoada de sapos e grilos, contrastavam com a cadência de nossos passos mudos. Seguimos a pé para as antigas instalações próximas ao portão norte, que ficava do lado oposto à Lagoa Sucuri. Aqueles velhos e descascados galpões, surrados pelo tempo, perfilavam-se lado a lado, mal iluminados e rodeados por velhas e frondosas mangueiras. Uma névoa rasteira se encarregava de dar à madrugada uma aparência suspeita, soturna, assustadora. Quando passava por mais uma das imensas portas, o tenente que andava nos meus calcanhares disse: - é aqui! Olhei para o alto e pude ler: S.I.J. – Seção de Investigação e Justiça. Adiantando-se, girou a maçaneta e abriu a porta revelando que algo de muito ruim estava à minha espera lá dentro. Choro, gritos e gemidos contaminavam o ambiente. Um sargento da 2ª Seção foi a primeira pessoa a me receber. Sob um imenso bigode, sua boca que parecia ter somente o lábio inferior resmungou:
“– Olha lá novinho, para facilitar o trabalho é melhor você dizer logo tudo que sabe, senão...” Não esperei que ele terminasse a frase e o interrompi com um sonoro “- ô fulano, vai tomar no seu...!” Um violento empurrão colocou-me de vez dentro do recinto. Atravessamo-lo apressadamente de ponta a ponta, chegando ao quintal do lado oposto, nos fundos, também repleto de mangueiras. A porta propositalmente entreaberta me permitia assistir a uma cena grotesca. Rodeado por sarcásticos “irmãos de farda” excitados como uma alcatéia, lá estava um homem de peito desnudo, chorando como criança, pendurado pelos pés, atado ao galho de uma das árvores com seu próprio cinto de lona. Chorava copiosamente enquanto repetia entre soluços:
“- Eu não sei, por favor, quero sair daqui! Minha cabeça está doendo muito!”
Ao se certificarem de que eu já havia visto o bastante, meus novos inquiridores, um tenente e um capitão, que eu nem os vi chegar, fecharam a porta e começaram seu trabalho...
- “Pois é sargento Rodrigues... – só tem um ano de formado! Sabe por que está aqui, não? Há quanto tempo vem usando desse expediente? Quem mais está envolvido nisso. Nós arrombamos seu carro e drenamos gasolina. Por que o seu carro estava com o motor quente quando a patrulha chegou? Há quanto tempo isso vem sendo feito. Por que a sua gasolina é igual à do Beltrano? Por que seu carro não estava no estacionamento do alojamento e sim no do hangar? Você já ouviu alguém dizer que usou gasolina de avião no carro? Essa garrafa de Coca-cola (meio litro) tem gasolina do seu carro.”
Diante do teor e o tom da conversa, ficou evidente que eu acabara de entrar na fila para aquele interrogatório ao estilo morcego, mas uma coisa estava decidida em meu pensamento: “Só conseguiriam me pendurar ali se eu estivesse morto!”
Fui achincalhado, humilhado, caluniado e ameaçado com um cassetete de borracha que passou várias vezes roçando minha orelha para explodir em uma velha escrivaninha. Depois de alguns golpes, farpas e serragem de cupins começaram a cair sobre minhas pernas. Sentado já era possível ver o piso através de um grande buraco que se formou no tampo. No entra e sai de interrogadores, alternadamente, alguns mais “camaradas” paternalmente diziam para que eu confessasse logo, pois quem assumisse o erro receberia um tratamento diferenciado. Na minha verde ingenuidade, se soubesse realmente de algo, teria confessado.
Certa manhã adentrou àquele embolorado recinto um oficial, a quem servi como aluno na Escola de Especialistas de Aeronáutica em 1975. Fiquei muito contente ao vê-lo e fui ao seu encontro:
“- Bom dia capitão, o senhor ainda se lembra de mim? Da 16ª Esquadrilha em Guará?”
“– Cale-se! Quem faz perguntas aqui sou eu! Você me faz sentir um fracassado. Como não percebi a tempo de impedir que um ladrão se tornasse um sargento da Força Aérea?
Pior do que cair nas garras do inimigo é ser fustigado pelos próprios irmãos, sem direitos, sem defesa ou qualquer contato externo. Quinze dias de privações passei entre quatro paredes de um cômodo sem janelas, até que chegassem à óbvia conclusão da minha completa inocência.
Das dezenas de envolvidos no IPM, muitos foram expulsos ou licenciados à bem da disciplina. Todos foram severa e oficialmente punidos, exceto eu. Eu fui inocentado. Fui até condecorado “oficiosamente” diante de todo o efetivo da AFA, numa formatura que já não me lembro em homenagem a que. A única recordação oficial que tenho é uma placa de prata com os dizeres; “Ao Controlador do ano de 1977 – Sgt. Rodrigues – Eficiência e Desempenho.” Essa condecoração visava tão somente minimizar os olhares maldosos que os pares lançavam sobre mim, sem a mínima intenção de tentar reparar o erro irreparável. Meu chefe direto, um tenente especialista, em momento algum tentou interceder a meu favor. Acredito, no entanto que ele, dentro de sua insignificante autonomia, tenha sido o mentor daquela papagaiada de controlador padrão.
Absolutamente nada foi registrado em minhas alterações ou histórico, nem a inclusão descabida naquele IPM de roubo de combustível, nem minha clausura, tampouco minha condecoração fajuta. Eu conservo a placa até hoje, como um lembrete, para jamais esquecer o que a Força é capaz de fazer com você, quando deveria estar fazendo por você.
Tempos depois aquele sargento que no dia da prisão recebeu-me na entrada da S.I.J. arriscou-se a falar comigo. Quando notou minha repulsa, antes que eu o repelisse com a mesma frase de outrora, o sujeito vestiu o “bibico” e disse jocosamente: “- Aí meu camarada, aquele cara pendurado na árvore era um infante nosso. Estava só fazendo teatrinho para você.”
Olhei-o da cabeça aos pés e respirei fundo para desfazer o nó que se formou na minha garganta. Ele, como se tivesse adivinhando minha próxima reação, girou nos calcanhares e partiu.

Apesar do turbulento início de carreira, por falta de oportunidades, passei três décadas na caserna, incólume e sem sofrer qualquer punição, com muitos méritos e poucas honrarias, à mercê da conveniência dos regulamentos militares, dos caprichos de comandos, usurpado pelos governantes no direito e no desempenho do papel constitucional, sob a batuta de duas Cartas-Magnas distintas orquestrando governos de ideologias diversas, uns democráticos e outros não. Marchei garbosamente em desfiles grandiosos. A cada comando de “olhar à direita” podia observar a satisfação “orgásmica” estampada na face e nos olhos das autoridades, inebriadas pela sensação de poder que aqueles submissos e aplicados soldados lhes causavam ao ego.
Não há nada pior do que a servidão, mas minha inclinação para o controle de tráfego aéreo amenizou a crueza de suportar por tanto tempo a supremacia da força sobre a razão. Realizei com satisfação meu trabalho amparado em documentos e normas da administração de aviação civil internacional, muitas vezes dissonante e incompatível com os regulamentos castrenses. E assim sobrevivi à simbiose militar/ATC. Foi exatamente assim. História viva na minha lembrança, como se fosse ontem, como se fosse hoje, e acho que infelizmente, como será para sempre.

Mário Celso Rodrigues
Um Sub Consciente

29 de Setembro de 2006 - Divisor de Céus!


1ª Turma de "Controladores de Vôo" do Brasil.
(deitado: Francisco Drezza - o 1º Controlador RADAR)

Era uma véspera de feriado prolongado, por volta de oito e meia da noite. O burburinho na sala do APP São Paulo se avolumava e as coordenações entre setores eram realizadas em sua maioria por pantomimas, linguagem que o tempo de convivência em equipe espontaneamente convencionou. Enquanto controlávamos os aviões, porta-strips eram lançados como discos de um jogo de malhas, deslizando certeiros pelo chão da ampla sala, substituindo a tarefa da transferência eletrônica que o sistema não conseguia realizar. É incrível a capacidade do ser humano de se adaptar às dificuldades, criar soluções eficazes e comunicações futuristas, quase telepáticas. Os controladores se entreolhavam e as ações coordenadas fluíam como jogadas ensaiadas de um “dream team”, de uma equipe que, em tese, nunca poderia perder. Um único supervisor, “ziguezagueando” pela sala, tentava alinhavar os tráfegos que brotavam perenes dos três setores distintos, para despejá-los nos três principais aeroportos da terminal. Aquela era uma tarefa que, de tão imprevisível, nos impulsionava a fazer um “Sinal da Cruz” no início e no final do turno. Todas as ações eram...

Caro Controlador,
Comecei este texto movido pelo saudosismo, mas ao iniciar a digitação notei que o tempo realmente passou. Hoje não há espaço para paixões no controle de tráfego aéreo. Não há lugar para “super controladores”. Não há como realizar essa missão no improviso, na gambiarra, no amadorismo. Nossas antigas convicções murcharam com a dolorosa experiência vivida em 29 de setembro de 2006.
A ignorância que, por décadas cegou nossa visão do perigo, feneceu diante das facilidades da informação em tempo real, da telefonia móvel, da rede mundial de computadores, e sepultou de vez a soberba operacional que nos qualificava como “anjos da guarda”.
Hoje, mais do que nunca, reconheço que foi a providência Divina que nos protegeu e nos guiou nesse obscuro período. Protegeu-nos enquanto trilhávamos os caminhos desbravados por Chico Drezza, vivendo apaixonadamente no fio da navalha. Protegeu-nos porque, até então, a nossa irresponsável ousadia era fruto de uma doce inocência.
Agora que a candura abandonou o Controle de Tráfego Aéreo, agora que e o senso de responsabilidade aguçou nossos sentidos, agora que o conhecimento e a prudência começam a fluir em nossas veias, não justifica ficarmos alheios às mudanças, pois hoje, a palavra de ordem no ATC é “Participar”.
Pesquisem, discutam, opinem e ajudem a escrever a história de uma nova era.
O sonho não acabou. A inocência sim!
Pensem nisso!

Grilhões invisíveis!



É comum ouvirmos, e eu ouvi muitas vezes em 30 anos, uma frase que dói na alma, tanto pela insensibilidade de seu conteúdo quanto pela ausência de conteúdo: “-Se não estiver satisfeito, a porta da rua é a serventia da casa!” Uma frase desprovida de qualquer resquício de camaradagem pelos anos de privação do convívio familiar, das noites sem dormir, dos Natais, Réveillons, Aniversários e Carnavais longe de nossos entes queridos. Nela não está presente a tensão que passamos nos serviços de guarda e segurança em locais sombrios de épocas sombrias e contra ideais sombrios. Nela não estão presentes os momentos de apreensão na atividade de controle do tráfego aéreo, onde sofremos pela segurança de pessoas que sequer conhecemos.
Essa frase tem sido utilizada com tanta freqüência que nos remete a comparar a nossa amada “Mãe Força Aérea”, com uma senhora casadoira, de muitos maridos que se renovam a cada novo comando. E nós? Bem, nós somos aqueles enteados indesejáveis, que por falta de laços de sangue não almejam o mínimo afeto do pai, tampouco mera consideração.
Acima de tudo, com alguma mágoa e uma pitada de frustração, mas despido de qualquer rebeldia, procuro focar minha preocupação no “Fator Humano” da atividade ATC, onde, apesar do questionável cenário, tive a sorte de desfrutar de uma carreira profícua, digna, útil e prazerosa. Tendo esse sentimento como ponto de partida, ousei escrever o texto a seguir. Espero que apreciem.

Grilhões invisíveis!
Assim contava minha saudosa avó:
- “Eu era menina ainda. Devia ter uns 10 anos. A abolição da escravatura havia sido recém proclamada, mas muitos negros, por falta de trabalho remunerado, optavam por manter-se naquela condição desumana e continuavam a trabalhar em troca de pão e água sob o teto das velhas senzalas de portas abertas. Ir embora para onde? Quem daria emprego a um negro? Aqueles que alimentavam o espírito da liberdade definhavam-se pelas esquinas da cidade, doentes e famintos. Outros se aventuravam a caminhar sem rumo, em trajes rotos, esfarrapados pelo tempo, expostos às intempéries. Tornaram-se andarilhos em busca de um quilombo que os acolhesse. Pois acredite meu neto, os Senhores da Terra importavam mão de obra branca do estrangeiro para o trabalho no campo, só para não dar emprego remunerado aos seus ex-escravos. Pobres negros!”

Hoje noto que há uma parecença dessa triste estória com a segregada situação do controlador militar de tráfego aéreo. Quem se atreveria a deixar a FAB para buscar um lugar na Infraero? Quem se sujeitaria a prestar um novo concurso, realizar novamente um desconcertante curso de “formação” no ICEA, ministrado por seus pares, quem sabe até por seus ex-alunos, para reabilitar-se como controlador civil? Pois é, de outra forma ninguém dará emprego no ATC civil a um controlador militar alforriado. Alguns desses libertos têm buscado a sorte em outras áreas, tentando adaptar-se às atividades com as quais nunca tiveram contato. Outros continuam na “caserna de portas abertas”, mas agrilhoados pela escassez de novas oportunidades e sujeitos à chibata regulamentar calibrada à sua condição subalterna. Alguns poucos anciões, beneficiários da lei dos “quase sexagenários”, foram chamados de volta, mediante o estipêndio de uma cota extra de ração, para forjar os jovens no servilismo e no trabalho resignado. De outro lado, os afortunados ex-escravos de canela fina ou de meio-sangue azul, serviçais da Casa Grande, contam com a abastança de um salvo conduto de uma lei especial que os protege. Uma parte deles aninha-se na aviação civil sem precisar de qualquer análise comprobatória de competência, muito menos repetir o curso de formação. A outra parte se refestela com cargos na “Corte” para desempenhar em estatais o único papel que sempre fizeram com maestria, o de feitor.
Pobre controlador militar de pé rachado e sangue plebeu. Não tem sequer o direito de sonhar com a mesma sorte. Nem expressar suas vontades, nem seus ideais, sob o risco de ter em seu encalço um “capitão do mato”, que o levará a ferros ao julgo desse descabido “apartheid hierárquico”. O que conforta é que, para esses casos, sempre haverá uma comunidade quilombola por perto, falando a mesma língua, sofrendo dos mesmos males, lutando pelas mesmas causas e buscando pela mesma justiça. Elas sobrevivem precariamente de doações, de uma mísera gota de suor se comparável à despendida em bicas na árdua labuta do ATC. Contribuir para sua subsistência tornou-se a única maneira de garantir que nos momentos mais difíceis, a “peça” não estará sozinha.
Modelos internacionais de integração dessa chamada “sub-raça”, que foram aplicados em países mais desenvolvidos, chegam sorrateiramente para mostrar os resultados obtidos no estrangeiro e aguçar a sede pela igualdade que nos tranca a garganta. Como saber se isso será bom ou ruim, se os abolicionistas trabalham nos bastidores, a meia luz, com meias palavras, esquivando-se da fidalguia que insiste em persegui-los? Não há como saber. E por conta disso a frase “Aguarde e confie” continua sendo a única mensagem sussurrada na escuridão das senzalas.
Para finalizar, gostaria de justificar minhas prosaicas palavras, exortando os leitores ao pensamento do audaz Patrono da Força Aérea Brasileira, o emérito Brigadeiro Eduardo Gomes. Ele sim, demonstrando refinado espírito militar de corpo, um dia assim se expressou:

“- A hierarquia existe para definir níveis de decisão e nunca para afastar aqueles que vivem sob o mesmo juramento”.

O que mais dói não é cicatriz no tornozelo. O que dói de verdade é que, apesar do grilhão de ferro ter sido removido, a gente continua sentindo que ele ainda está ali.

Say again!



Na década de 70, quando eu ainda era um sargento recém formado, questionei o oficial chefe do destacamento sobre a falta de conhecimento da língua inglesa. Isso porque vi que meu inglês tosco não ficava atrás da fluência dos velhos controladores com larga experiência que operavam ao meu lado. Fiquei perplexo quando ouvi a resposta do eminente oficial: “o domínio do inglês para o sargento é seu passaporte para a vida civil, por isso a FAB não tem interesse nesse aprimoramento”. E assim, apesar de ter passado por muitos apuros com tráfego internacional, consegui terminar meu tempo de serviço incólume, entre “repeat please”, “speak slowly”, “say again”, e outros termos de salvação.
Não sei se o leitor já ouviu essa histórica estória pelos corredores aeronáuticos, e que reflete o grau de periculosidade da nossa formação. Difícil acreditar, mas o caso é verídico e eu o presenciei.

Em 24 de março de 1998, dois jatos estrangeiros (América Central) com tripulação americana (um Boeing 727 e um Cessna 500) ambos a serviço da diretoria do Banco de Boston, solicitaram à TWR Congonhas o clearence do plano de vôo com destino a Brasília, transportando altos funcionários e executivos internacionais do banco. O primeiro piloto do B727 recebeu a autorização do plano, porém não entendeu e solicitou que a TWR repetisse a instrução. O controlador repetiu por duas ou três vezes, sendo que na última vez o piloto pediu que ele soletrasse... “please spell”, mas o controlador não entendeu e repetiu suas instruções de plano de vôo e da saída a ser executada e solicitou que o piloto cotejasse o recebimento. O piloto de uma forma inacreditável assim cotejou: “Ok cleared to Brasília, Flight Level 310, after departure maintain five thousand feet “on aaa huhuhu on brbrbrbrbr departure” e o controlador aceitou. O piloto procurou em sua pasta de navegação e simplesmente escolheu uma das saídas de Congonhas e prosseguiu no táxi para a cabeceira 35. Durante o táxi esse efetuou contato em uma freqüência reservada com o piloto do segundo avião que alegara ter tido a mesma dificuldade no entendimento das instruções. Como fariam o mesmo trajeto, combinaram a mesma saída!
Após decolagem da pista 35, ao chamar o APP SP (controle radar de saída) o B-727 voou inadvertidamente no rumo norte para Brasília e conflitou perigosamente com um Boeing 767 da American Airlines que fazia aproximação para a cabeceira 09 de Guarulhos, obrigando o mesmo a executar uma saída evasiva para evitar a colisão. Minutos depois, antes mesmo dos controladores terem se refeito do susto, o segundo avião decola e cumpre a mesma trajetória passando novamente perigosamente próximo de outra aeronave que também se aproximava para pouso em Guarulhos. Nos dois eventos, mesmo com as ações evasivas das aeronaves envolvidas, a distância das quase-colisões não foram superiores a 150 metros.
Foram dois riscos críticos de quase-colisões frontais entre 4 aviões de grande porte em menos de dez minutos, creditados à deficiência do idioma por parte do controlador da TWR. Os controladores do APP Radar São Paulo chegaram aos limites de suas forças emocionais e foram substituídos de imediato. Eles ainda estão na ativa e só agora receberam, assim como todos os demais, um curso intensivo de inglês para sanarem suas deficiências, apesar das urgentes recomendações dos RICEAS - Relatórios de Incidentes do Controle do Espaço Aéreo.

Sonhar é crime?



Na semana passada, depois de um dia difícil entre consultas médicas, vacinas e remédios controlados, fui me deitar com um forte aperto no peito. A cama parecia não ter colchão, o que me obrigava virar de um lado para outro à espera do sono que demorou a chegar. Num dado momento, de pijamas e chinelos macios, lá estava eu, de frente para o Presidente Lula que, demonstrando surpresa pelos meus trajes, perguntou: -“O que é isso, companheiro?”
Tomado de um êxtase extremo, comecei a balbuciar algumas palavras desconexas que, com o passar do tempo, foram se organizando até ter algum sentido. E sem qualquer interrupção da parte dele, assim eu lhe disse:

- Excelentíssimo Senhor Presidente Lula,
Vim até Vossa Excelência, solitariamente, para um desesperado apelo, uma vez que, a visível falta de empenho, tanto do Ministério da Defesa quanto dos Comandos Militares das Forças Armadas, não conseguem convencer a equipe de Governo de Vossa Excelência da nossa triste realidade. É difícil aceitar essa situação em que as mulheres dos militares têm que tomar a frente da tropa para falar em nome de seus maridos. Isso me faz sentir um tanto covarde e proxeneta e não coaduna com minha formação militar e, muito menos, de cidadão brasileiro.
É cada vez maior a desesperança em dias melhores, ou pelo menos mais dignos, uma vez que essas constantes provocações administrativas nos fazem engolir em seco na hora de contabilizarmos e compatibilizarmos os gastos do mês com nossos proventos. Refiro-me às recentes notícias sobre o pífio reajuste que se pretende dar às Forças Armadas. Bem sabe Vossa Excelência que nós, os militares, não podemos seguir a cartilha do sindicalismo, não temos direito à manifestação pública, tampouco promover greves sob pena de prisão e enquadramento em crime militar. Mas será que esse é o único expediente que Governo Federal considera? Porque se assim for, Excelência, mais dia ou menos dia a instituição militar não resistirá a essas sádicas pressões, e em conseqüência romperá os laços de lealdade com os princípios basilares para buscar, ainda que ilegalmente, o que a ela é devido. Sei que, graças à vossa orientação e formação política, entende bem o que digo, tanto que em março de 2007, após poucas horas de impasse envolvendo controladores de tráfego aéreo, militares, chegou a propor uma gratificação emergencial, sem ao menos aprofundar-se nos méritos da questão. É bom que saiba também que, durante o “Governo Militar”, ao contrário do que muita gente pensa, a tropa do baixo escalão não se beneficiou do “Poder.” A ingênua justificativa dos comandantes de que “o exemplo deveria vir de cima,” só aguçava a ansiedade de seus soldados por dias melhores, sob as ordens de um promissor “Governo Civil”. Ledo engano.
Hoje os ínfimos reajustes salariais que vem sendo prometidos e, ainda assim, nem sempre cumpridos, assemelham-se a migalhas lançadas com pura intenção revanchista. Acontece que esses revides estão sendo endereçados às pessoas erradas, pois no passado, seus opositores nunca estiveram entre nós, os molambos, mas sim, envoltos em comendas e medalhas, misturados ao grupo palaciano que jamais abandonou a fidalguia e pelo jeito, jamais abandonará.
As Instituições Militares, Excelentíssimo Senhor Presidente, em sua esmagadora maioria, é composta de homens corajosos e valentes, que só recuam se for por estratégia, mas que dão suas vidas por uma causa, se julgarem que ela é legítima. Não me cabe medir o nível de confiança que os atuais comandantes militares exercem sobre seus comandados, mas com certeza, não fazem por merecer uma coesa admiração. Ainda que sejam “leões a comandar ovelhas”, a hierarquia e a disciplina também têm um preço: “O respeito mútuo”.
E para finalizar, Excelentíssimo Senhor Presidente da República, antes que eu acorde, gostaria que soubesse que, se por ventura este meu involuntário sonho for suficiente para afastar-me do convívio de minha família e recolher-me por alguns dias entre quatro paredes de um quartel, se levar Vossa Excelência a pensar no assunto, já terá valido a “pena.”
- “O QUE FOI QUE VALEU A PENA? HEIM? DEVE ESTAR SONHANDO COM ALGUMA SIRIGAITA!”
Sem entender o que se passou, acordei com minha mal humorada esposa lamentando seu sono interrompido por meus resmungos. Caramba! Tinha que me acordar bem na hora que ele ia falar alguma coisa?
Virei de lado, busquei dar continuidade ao sono e ao sonho e acredite, consegui. Mas que pena, de nada adiantou, pois ele tinha acabado de viajar para o Iraque.

Ai meu Deus! Será que sonhar é crime?

Não consigo mais hipnotizar ninguém!



Dentre os muitos problemas causados por um aeroporto no seu entorno, ai vai mais um caso.
A Vila Nova Conceição, em São Paulo, era uma pacata e elitizada vila nas circunvizinhanças de Congonhas e protegida do barulho aeroportuário pelo morro do bairro de Campo Belo. Situada entre Moema e Brooklin, numa região nobre de São Paulo, é um reduto de “Paulistanos Quatrocentões”, ou seja, famílias tradicionais desde a fundação da cidade, com suas suntuosas e antigas mansões. Um paraíso.
Há alguns anos, um renomado médico psico-terapêuta gastou milhões montando sua clínica “6 estrelas” na afamada vila, visando, é claro, atender as cabecinhas mais abastadas da nata paulistana. Mas a alegria durou pouco. Bastou o homem inaugurar a Mega-Clínica de Terapia por Hipnose e Regressão e veio a mudança no aeroporto de Congonhas. A circulação aérea, por necessidade operacional, teve que criar várias saídas com curvas à direita após a decolagem da pista 35, que fazia as aeronaves passarem bem baixinho sobre seu telhado. É bom que se diga também que essas saidas representavam 60 a 70% das decolagens da pista 35.
Depois de muito protestar, ameaçando e talvez até acionando judicialmente o Serviço de Proteção ao Vôo, ele se resignou. Em vários telefonemas ao APP SP, a pergunta era sempre a mesma:
- “Bom dia senhor controlador. Aqui é a secretária do Doutor Fulano, será que hoje Congonhas vai operar com a pista 35? É que eu estou precisando marcar algumas sessões de terapia com hipnose na clínica. Apesar do isolamento acústico, quando opera com a pista 35 não conseguimos hipnotizar ninguém.”

Já imaginaram?
Você está com sono... Muito sono... (e decola um Airbus) HUUUUUA AAAAARRRRSHSHSHSHSHSH... como eu dizia, você está com so... (decola outro) HUUUUUAAAAAARRRRRRSHSHSHSHSH...

Ou então:
Agora Dona Clotilde... a senhora está voltando no tempo... isso, agora a senhora tem apenas 5 anos de idade, uma criancinha com sono, muito sono. Isso minha linda criança durma... durma... para voltar do transe eu preciso trazê-la de volta aos seus 65 anos... mas agora você é só uma criancinha... dur... (e decola um Learjet 24) HUUUAAA AARRRRSHSHSHSHSHSH...
“- Onde estou? Quem é o senhor? Eu quelo minha mããããeeee!” RsRsRs

Seria cômico, não fosse trágico.

Quer ganhar o quê?



A culpa é do sotaque carioca!

Era uma vez, por volta de 1995 um controlador de vôo carioca, que aproveitando um de seus poucos dias de folga, caminhava pensativo pelas areias de Copacabana. Perdido em seus pensamentos, questionava seu destino. Somava as contas a pagar e chutava as pequenas dunas de areia num gesto de desabafo. Uniforme das crianças, aluguel, remédios, supermercados, o leite e o pão, e aquele salário pequeno que mal dava para pagar a prestação de seu Chevette 81. Foi então que ao chutar um morrinho de areia, desenterrou algo interessante. Pegou-o rapidamente e seu primeiro pensamento foi, “será que isso vale algum dinheiro?”
Esfregando a barra da camisa no objeto com a intenção de limpá-lo, assustou-se ao ver que o mesmo começou a reluzir e jogou-o ao chão. Imediatamente uma nuvem de fumaça saiu daquela ampola. Ao dispersar a névoa, um elegante gênio se anuncia:

-“Oh grande amo, estou à sua disposição para realizar um pedido seu.” “Não tenha pressa, pois deve pensar bem no que vai me pedir”. “Uma vez atendido seu único pedido, será para sempre.”

O controlador sentou-se na areia e passou a pesar as vantagens e desvantagens de todas as opções possíveis. Humildemente e sem muita ambição, concluiu que seus problemas se resumiam na crônica falta de dinheiro. Não havia saída. O salário seria uma boa escolha. Olhou para o gênio, pacientemente sentado ao seu lado, e pediu num “carioquês” arrastado:

“-Aí seu gênio, o negócio é o seguinte”... “Eu queria mesmo era ganhar uns quatro mil!”

O gênio não pestanejou e levantando-se declarou:

“-Que assim seja patrãozinho! Alakazam!!!!! ! Sai um X-4000 para o meu amo controlador!.”

E foi assim que o controle de tráfego aéreo ganhou seu sistema de visualização radar, que irá perdurar “Atech” um novo gênio volte para desfazer a maldição.

Quem não gostou que conte outra.
Celso Big Dog

Ver, sentir e calar!



Era sexta-feira, 26 de maio de 2000. Na sala de estar somente a figura do Renato Santos à paisana. Era o dia de seu aniversário e após as 22 horas iríamos comemorarmos no primeiro boteco de portas abertas que encontrássemos. Devorando alguns textos de Kafka, vez por outra adentrava à sala do APP para dividir conosco seu prazer: “Escuta isso Cachorrão...” Lia e buscava no fundo dos olhos do ouvinte a resposta de sempre: “Será que esse imbecil entendeu?” E por muitas vezes repetiu o ato, girando em seguida nos cascos para acomodar-se novamente nos surrados sofás da salinha. Ah Tigrão, não esquecerei jamais quando você redigiu um texto endereçado aos supervisores do APP e eu o questionei: “Esse texto está muito complexo. Os supervisores terão que consultar um dicionário para entendê-lo.” Depois de entortar a boca, entregou-me a folha novamente e pediu com educação: “Por favor, emburreça o texto para mim.”
Enfim chegamos ao turno das 20h. As posições operacionais estavam ocupadas com o material humano que dispúnhamos. Na minha função de chefe de equipe escalei os melhores operadores para os setores mais congestionados, como era usual. Por falta de controladores habilitados acomodei-me numa das mais movimentadas posições operacionais do APP SP, o “Final Congonhas”. O movimento se avolumava tanto que procurava, além de dar conta do meu tráfego, orientar os dois supervisores que corriam pela sala alinhavando os aviões dos três setores que estavam sendo seqüenciados para pouso, coordenando as decolagens e agilizando a saída da terminal. Quanto menos tempo um avião permanecesse no solo de Congonhas ou Guarulhos, melhor seria para o fluxo de tráfego, sem esperas no solo e sem órbitas em vôo. As freqüências de rádio, como sempre, apresentavam interferências das mais diversas, mas o que fazer se não havia reservas. Os alvos duplicados, triplicados e multiplicados dos aviões na tela do X-4000 aumentavam a sensação de que não iríamos dar conta do recado. Na cabeça um só pensamento “-será que vai ser comigo?” Pedi à Torre Congonhas que procurasse usar as duas pistas, pois reduzi de cinco para três milhas náuticas a separação entre aviões diante de uma grande demanda de tráfego que se aproximava. Apesar de solicitar aos Centros Brasília e Curitiba que realizassem um controle de fluxo, já sabia que isso era quase impossível. Essa solicitação gerava um efeito negativo na produtividade, pois os aviões mantidos “presos” juntos aos Centros de Controle reduziam sua capacidade de aceitar os tráfegos saindo da terminal e criava um circulo vicioso, onde o avião, tripulantes e passageiros eram as grandes vítimas. Mas aquele dia iria marcar minha vida, que já apresentava muitas seqüelas do trabalho, no corpo magro e curvado, triste e sem esperanças. Não havia tempo sequer para pensar na minha família que meses antes havia se desfeito pela minha intolerância, amargura e cansaço. Eu estava no fundo do poço e não sabia.
Como disse no início, naquela sexta-feira, 26 de maio, às oito horas da noite, um silêncio tétrico repentinamente tomou conta da sala. Olhares incrédulos se cruzaram das oito posições operacionais ativadas e um gemido uníssono ecoou na sala: “- Caiu a freqüência!” - Mas meu Deus, caíram todas? De uma vez? Levantei-me da cadeira e busquei o único equipamento variável reserva que ficava no fundo da sala. Deparei-me com um aglomerado de controladores que se acotovelavam em busca de uma chance para falar com seus aviões. Que triste constatação: “-Não havia microfone!” Pedi que os supervisores ligassem para os demais órgãos para que reassumissem nosso tráfego, mas os telefones também estavam mudos. Aquele sistema SITTI de comunicação que eu tanto reneguei, mostrava-se pior do que eu poderia imaginar. Ficamos vinte e dois minutos com os olhos estatelados nas telas do radar, incrédulos e impotentes diante de um filme de terror. Quase bateram quatro aviões, dois sobre Santana do Parnaíba e dois sobre Bonsucesso em Guarulhos. Naquele momento senti um forte cheiro de sangue vindo das entranhas do cérebro, mas não fluiu no meu nariz. Minhas mãos suavam frias, estavam escorregadias que mal podia firmar a caneta para anotar as providências. Suspirei por várias vezes e buscando manter a voz serena comecei pouco a pouco a retomar a consciência. Enquanto confortava os colegas, rezava. Deles recebi elogios pela maneira calma com que reorganizei o serviço. As 23:00h, após anotar as alterações no Livro de Registro de Ocorrências, desci as escadas, entrei no carro, fechei a porta e chorei como uma criança. Fui para casa e esqueci até mesmo da comemoração do aniversário do meu melhor amigo.
Minha vida nunca mais seria a mesma e decidi que enquanto participasse daquele circo de horrores, haveria sempre de registrar e relatar tudo, buscando soluções, se necessário, nos altos escalões da Força Aérea. E assim o fiz através das prerrogativas que o CENIPA me confiou como TSCEA - Técnico de Segurança do Controle do Espaço Aéreo. Vivenciei outras incontáveis estórias parecidas, indizíveis, de um sofrimento tão exótico que nenhum outro ser humano jamais entenderá.

Por favor, contem essa história para os incrédulos, os insensatos, os preconceituosos contra militares, os preconceituosos contra civis e para aqueles que afirmam que nós, os controladores, somos os anjos que perderam a inocência.

Hoje estou recolhido na reserva. Diante da proposta de voltar ao convívio do tráfego aéreo, consultei minha família, reconquistada com a Graça de Deus, e a resposta que tive foram lágrimas que vi brotar dos olhos de minha esposa.
Chega!
Acho que o grito de socorro daquele dia 26 de maio, só agora conseguiu sair da minha garganta.

E você? Onde está?



Uma camela e seu filhote estavam à toa quando de repente ele perguntou:
- Mamãe, por que os camelos têm corcovas?
- Bem, meu filhinho, camelos são capazes de reservar água em suas corcovas, coisa tão escassa nos desertos.
- E por que nossas pernas são longas e nossas patas arredondadas?
- Filho, certamente elas são assim para nos dar mais habilidade ao caminhar nas areias fofas do deserto. Com essas pernas e patas podemos nos movimentar melhor do que qualquer um! Disse a mãe, toda orgulhosa.
- Certo! E por que nossos cílios são tão longos que chegam a atrapalhar minha visão.
- Meu filho! Esses cílios longos e grossos nos permitem ter uma melhor visão, pois nos protegem da claridade excessiva do deserto e funcionam como um filtro protetor nas tempestades de areia!
- Ah! Então a corcova é para armazenar água enquanto cruzamos o deserto; as pernas para caminhar através do deserto e; os cílios para proteger nossos olhos da areia do deserto?
- Isso mesmo meu geniosinho querido. Muito bem!
- Então mamãe, o que é que estamos fazendo aqui neste ...........zoológico?

Moral da história: "Capacidade, Habilidade, Visão e Conhecimento só são úteis se você estiver no lugar certo!"
Autor desconhecido.

Yes Break!



Estar aposentado é isso. A cada notícia sobre aviação uma lembrança relacionada ao assunto. Algumas tristes e outras muito hilárias. Então segura:

Era uma vez um aeroporto chamado Congonhas...
Ano após ano, por uma coincidência irritante, nos meses de junho, julho e parte de agosto, quando operávamos com as condições de tempo mais degradadas, sob o frio dolorido de Sampa, o bendito ILS da pista 17 de Congonhas saia do ar. Não havia reset que desse jeito. Somente a intervenção do técnico que morava no sítio do equipamento, conseguia restabelecê-lo. Uma operação que deveria ser rápida, quase sempre demorava cerca de 30 a 40 minutos para voltar ao normal. A aviação pagava um alto custo, pois nesse período a ocorrência diária se dava quase sempre no horário do rush, entre 18 e 20 horas.
Não conseguindo saber as causas de tanta queda de energia no equipamento, iniciamos uma estatística para tentar, ainda que não sanássemos por completo o problema, pelo menos diminuir o tempo de restabelecimento. Qual não foi nossa surpresa, quando já na primeira semana de anotações, nos vários acionamentos do mantenedor, houve demora na resposta porque ele sempre estava a tomar banho. Caramba! - diziam os colegas - esse cara sempre resolve tomar banho quando mais precisamos dele!
Os dados registrados foram levados à área técnica para que tomassem as devidas providências, e na primeira inspeção do problema crônico por 3 a 4 anos, nos horários mais prováveis da queda, uma equipe da DT acompanhava o mantenedor para tentar identificar o problema no momento exato da ocorrência. Qual o que? A pane não se apresentava. Bastava que eles virassem as costas e logo uma chamada telefônica acusava que o problema voltava a se apresentar.
Depois de muito se pesquisar, descobriu-se que o problema estava no banho do técnico residente. Nos meses mais frios, quando ele passava a chave do chuveiro para a posição inverno, o “gato” que ele havia feito na instalação do ILS para economizar energia da casa, causava sobrecarga e desarmava os disjuntores.
Ora Bolas! Vai tomar banho!

Era uma vez uma inspeção...


Na virada da década, ou melhor, do século, quer dizer do milênio, a Organização da Aviação Civil Internacional informou que faria uma inspeção nas instalações e condições de trabalho no ATC no Brasil. Que bom! Alguns crédulos diziam. Quem sabe se as coisas melhoram por aqui.
Às vésperas do feito, uma reunião de apronto foi agendada em São Paulo.

- Tenente Fulanildo, aqueles manuais foram atualizados?
- Como não recebemos as atualizações, peguei o do senhor emprestado.
- Muito bem. Mas, vai e volta heim!
- Quero todos os militares de 7º uniforme e a apresentação pessoal dos civis impecável.
- Major Ciclanildo, aquele suboficial controlador que fala inglês fluente já foi acionado para receber a comissão?
- Não coronel, ele se recusou.
- Como?
- Ele disse que não poderia faltar às aulas marcadas com seus alunos. Disse também que o idioma que ele domina aprendeu por meios próprios e que durante o curso nós até negamos as dispensas do serviço em seus dias de prova.
- Mas não tem esse caso. Ele não é militar?
- Pois é!
- Ou vem ou leva 4 delta.
- Hum...
- Quero o pessoal do expediente na sala ocupando as consoles vazias, ok? O teto do APP já foi limpo? Ou ainda está cheio de picumã?
- Nós pintamos coronel.
- Então não falta nada né?
- Coronel, nós não temos cadeiras no APP.
- Como assim?
- Ainda ontem um suboficial careca que estava trabalhando no Final Guarulhos foi se recostar e caiu de costas, chegando a perder os sentidos.
- E ai? Consertaram a cadeira?
- Não senhor, não tem como...
- Major Beltranildo, pede para o fornecedor emprestar 15 cadeiras giratórias. Se vira! Diga a ele que as devolveremos intactas na terça-feira.
- Tenente Fulanildo, diga para o seu pessoal não tirar o plástico das cadeiras, nem apoiar os pés nas bases giratórias ok? Vou cobrar da equipe que descumprir. Ah e guarde as etiquetas de referência do produto para recolocá-las depois.
- Mais alguma coisa?
- Coronel a Torre continua informando Hora Certa e Temperatura lida no luminoso do prédio do Banco Itaú.
- Isso é brincadeira. E a ligação de fibra ótica que fizemos?
- A Infraero foi fazer uma instalação de esgoto e partiu o cabo.
- Inferno! Mas isso é inadmissível. E como a Torre faz quando o tempo está fechado, se o prédio fica pelo menos a 3 milhas do aeroporto?
- Eles usam a informação do relógio da Marllboro que fica no meio da Avenida Washington Luís!
- Diabos! Determine que o meteoro informe por telefone a cada alteração da temperatura. Ainda temos aquele relógião de parede da Torre velha?
- Sim, vou pendurá-lo.
- Alguma recomendação para evitar comentários dos controladores com os inspetores, coronel?
- Hum! ... Acho que não... Eles não falam inglês mesmo!

Seria cômico não fosse trágico...