Dizem que “todo castigo para o corno é pouco”, e não existe algo pior para um homem do que amar uma prostituta convicta. Mesmo sabendo disso, eu confesso que já amei. Por mais que eu tenha tentado evitar, não pude resistir. Busquei modificar seus costumes, mostrar suas falhas, implorar sua atenção, mas qual o que. Sempre nas nuvens seus pensamentos se permitiam vagar ao vento e surfar em ondas enquanto eu, sempre com os pés no chão, gritava preocupado.
Ana Thereza Costa era o seu nome, mas eu a chamava carinhosamente de ATC. Filha bastarda de um militar da aviação que nunca a assumiu de verdade. Foi criada por uma boa família, mas perdeu-se na vida pela convivência no meio castrense. Sua mãe Fabiana, lavadeira do quartel, nunca conseguiu sequer tirar seu registro de nascimento. Assediada por militares, empresários e provedores, deixou-se levar pelas sevícias e pelo dinheiro fácil de seus cáftens. Mesmo sendo muito disputada, durante 31 anos a mantive como meu grande e perverso amor. Por ela privei a mim e à minha família de uma vida normal, de hábitos comuns e de convivência social. Corri o mundo servindo aos seus caprichos, abandonando de tempos em tempos minhas eternas novas amizades. Precisei adaptar-me aos costumes e regionalismos dessa terra, pois seu espírito cigano sempre a impulsionava a se mudar, mas eu a seguia. Minha esposa e meus filhos pagavam um alto preço na adaptação às novas escolas e na prospecção de novas amizades. Durante todos esses anos criei poucas raízes em minhas andanças e sequer tive tempo de pensar no meu futuro.
As rivais consentiam essa descarada bigamia, mas ainda que eu jurasse meu amor por ambas, não se aceitavam. A cada domingo ausente, Natal, Reveillon ou Carnaval, um veemente protesto da esposa ou da amante me atormentava. As noites passadas em claro ouvindo e compartilhando suas íntimas experiências de vida, roubaram sutilmente minha saúde, que jamais recuperei.
Ainda hoje, sempre que seus encantos visuais começam a perder o viço, rapidamente ela cede aos caprichos de seus clientes, meus rivais, e satisfazendo suas bestiais necessidades, consegue meios para tornar-se novamente uma figura vistosa e encantadora. Eu que a acompanhei por mais de 30 anos sempre soube o que se esconde por traz de sua beleza artificial. Seus olhos turvados já não enxergam bem. Sua voz, outrora melodiosa, brota agora de uma linda boca cravejada de dentes reluzentes, mas com rouquidão, falhando por vezes e dizendo coisas sem nexo, vindas não sei de onde.
Ah minha ATC! Se você vier a ler este texto, quero que pense em nossa história. Apesar de termos rompido nossa relação há três anos, continuo a monitorar seus passos. Dizem coisas horríveis a seu respeito, mas eu acredito, justamente por conhecê-la tão bem. No mais, só me resta rezar para que você se afaste das más companhias, mude seu sistema, encontre alguém que a respeite e a tire da zona. Que lhe dê um registro e defina regras que você consiga cumprir. Exija também que seu novo amor não seja comprometido com mais ninguém e que a ame muito, assim como eu sempre amei.
Cuide-se!
Celso, o teu cachorrão!
Ana Thereza Costa era o seu nome, mas eu a chamava carinhosamente de ATC. Filha bastarda de um militar da aviação que nunca a assumiu de verdade. Foi criada por uma boa família, mas perdeu-se na vida pela convivência no meio castrense. Sua mãe Fabiana, lavadeira do quartel, nunca conseguiu sequer tirar seu registro de nascimento. Assediada por militares, empresários e provedores, deixou-se levar pelas sevícias e pelo dinheiro fácil de seus cáftens. Mesmo sendo muito disputada, durante 31 anos a mantive como meu grande e perverso amor. Por ela privei a mim e à minha família de uma vida normal, de hábitos comuns e de convivência social. Corri o mundo servindo aos seus caprichos, abandonando de tempos em tempos minhas eternas novas amizades. Precisei adaptar-me aos costumes e regionalismos dessa terra, pois seu espírito cigano sempre a impulsionava a se mudar, mas eu a seguia. Minha esposa e meus filhos pagavam um alto preço na adaptação às novas escolas e na prospecção de novas amizades. Durante todos esses anos criei poucas raízes em minhas andanças e sequer tive tempo de pensar no meu futuro.
As rivais consentiam essa descarada bigamia, mas ainda que eu jurasse meu amor por ambas, não se aceitavam. A cada domingo ausente, Natal, Reveillon ou Carnaval, um veemente protesto da esposa ou da amante me atormentava. As noites passadas em claro ouvindo e compartilhando suas íntimas experiências de vida, roubaram sutilmente minha saúde, que jamais recuperei.
Ainda hoje, sempre que seus encantos visuais começam a perder o viço, rapidamente ela cede aos caprichos de seus clientes, meus rivais, e satisfazendo suas bestiais necessidades, consegue meios para tornar-se novamente uma figura vistosa e encantadora. Eu que a acompanhei por mais de 30 anos sempre soube o que se esconde por traz de sua beleza artificial. Seus olhos turvados já não enxergam bem. Sua voz, outrora melodiosa, brota agora de uma linda boca cravejada de dentes reluzentes, mas com rouquidão, falhando por vezes e dizendo coisas sem nexo, vindas não sei de onde.
Ah minha ATC! Se você vier a ler este texto, quero que pense em nossa história. Apesar de termos rompido nossa relação há três anos, continuo a monitorar seus passos. Dizem coisas horríveis a seu respeito, mas eu acredito, justamente por conhecê-la tão bem. No mais, só me resta rezar para que você se afaste das más companhias, mude seu sistema, encontre alguém que a respeite e a tire da zona. Que lhe dê um registro e defina regras que você consiga cumprir. Exija também que seu novo amor não seja comprometido com mais ninguém e que a ame muito, assim como eu sempre amei.
Cuide-se!
Celso, o teu cachorrão!
Amigo Celso, sinto ter que confessar a você que ATC, essa "prostituta", continua sendo, também, o meu amor.
ResponderExcluirAbraços,
Alvadia